sábado, 20 de outubro de 2007

Meu divertidíssimo trabalho

Como alguns sabem, eu trabalho de garçonete em um restaurante, o Spiseloppen. Mas não é qualquer restaurante, é um lugar muito especial e estranho.
Já ouviram falar na Christiania? Em curtos termos, Christiania é uma sociedade semi-independente, em caráter experiemental há mais de 30 anos. O território que eles ocupam era uma base militar murada na área central de Copenhague. É um lugar incrível, com muita história, gente de todo tipo, ruas de terra onde só pedestres, bicicletas e cavalos circulam, bares, cafés, casas de música, muito cachorro solto, muito haxixe e maconha, muito hippie velho estranho e outras coisas estranhas.
Eu trabalho no restaurante principal da comunidade, onde eles servem um tipo de prato do dia pros locais por um preço bem razoável. Mas é um restaurante fino: a comida é cara, muito boa e o lugar é uma atração na cidade. Eu adoro trabalhar lá porque o clima é ótimo e porque é uma cooperativa, eu não tenho patrão. É, tem uma ex-modelo bêbada maluca que trabalha lá há uns 20 anos e é responsável pelo salão. Mas ela não manda na gente. Ela só grita com todo mundo, bebe mais, grita de novo, manda todo mundo se fuder, cheira um pouco, fuma um pouco e fica neurótica, achando que todo mundo está falando mal dela. O que não é de todo neurose. Ela é ótima, me mata de stress e de rir depois. Mas hoje ela não estava lá e a atração foi uma outra senhora, uma freguesa.
Ela chegou com cara de problema. Imunda, um machucado no nariz já com casquinha, sua própria taça de vinho, uma suposta filha a tira-colo e muito, mas muito bêbada. Sentou, claro, na sessão dos Christianites, pediu o prato do dia, comeu. Como eu atendo a área dos forasteiros (os não locais, as famílias e turistas), eu não tinha prestado tanta atenção nela, até que eu vejo um certo fuzuê, um senta-e-levanta, e meu colega, o Berthel, desorientado, abrindo e fechando o caderninho de contas. É claro, é óbvio que ela não tinha dinheiro para pagar. Como sempre. Disse que não precisava porque é amiga da tal ex-modelo. Então ela volta pro seu lugar, ouve um pouco de música, bate muita palma e relaxa. Um pouco depois o Berthel chega no meu ouvido e diz: "Eu acho que ela mijou no chão, ai. Olha lá." Havia uma poça misteriosa imensa saindo da cadeira dela e escorrendo em direção às mesas dos turistas! Xixi, cerveja, xixi, cerveja?? Então ela levanta, o cheiro levanta junto e a gente vê as calças dela completamente molhadas. Meu colega entrou em desespero, mas ainda morrendo de rir, porque lá é assim. Depois ela começa a trocar de cadeira, molhando todas, uma coisa sem conexão com a realidade. Ai, Jesus, isso só acontece no Spiseloppen... O Berthel pegou umas luvas de borracha, um monte de pano de chão e quando ele estava agachado, limpando o xixi alheio, a velha olha pra baixo e diz: "Enche meu copo de vinho!"
De graça, claro.

5 comentários:

marta disse...

hahahahahahahaha!!!

Muito bom!! rsss...

Deve ser uma loucura trabalhar aí e, talvez por isso mesmo, muito interessante também.
Que figuraça essa "madame"!
Mas, afinal, ela era amiga da ex-modelo??

Guadalupe B disse...

Sei lá... se bem que elas podiam ser amigas mesmo... A ex-modelo tem uma outra amiga que é ex-puta. hahahahahah
Ótimos colegas de trabalho, os meus.

Juliana disse...

caralho, que medo.
que desprendimento. tipo 'ai,q ue vontade de fazer xixi'. e faz. simples assim.

todoseles disse...

Cara, TUDO que vc fala sobre a Dinamarca me parece muito legal! Eu fico louca pra passar uns tempos aí! Que lugar surreal, eu nem sabia que existia uma sociedade "semi-independente" no mundo que não fosse indígena... Eu acho esses países escandinavos completamente misteriosos e eu acho foda ter uma brasileira louca, querida e que escreve maravilhosamente bem pra traduzir aquilo tudo pra mim! eeeeeeeeee!

Guadalupe B disse...

AIIIIIII.. brigada..... Tô até vermelha..
Olha aqui, vc sabe que eu vou AMARRRRRRRRRRRR se vc vier me visitar.. A qquer hora.. Continuo esperando.