terça-feira, 16 de outubro de 2007

A direita e a esquerda de mim – volume 1

Caso eu não fosse uma pessoa "hmmmmmm complexa", acho que eu diria que essa é uma das crises mais recorrentes que tenho. Ela ficou mais forte quando comecei a trabalhar em uma grande empresa, mas, na verdade, desde que comecei a trabalhar ela já se insinuava.

Digamos que tudo na minha vida foi arquitetado de forma a me fazer não ganhar dinheiro e, principalmente, a achar que não tinha MESMO como ganhar dinheiro de maneira honesta (coisa com que todo pobre deve se preocupar). Percebam: minha criação foi toda na Baixada Fluminense (isto é, nem eu nem toda a minha família temos "altos contatos" no mercado, em nenhum mercado), não tenho o inglês fluente até hoje e quando tive a oportunidade de mudar essa situação escolhi fazer Letras na "marxista" UFRJ. Tempos depois, vi essa decisão como uma espécie de "tiro de misericórdia" do tipo "já que é pra me foder, vou me foder T-O-D-I-N-H-A".

Agora, porém, tenho uma visão mais positiva de minhas escolhas: acho que fiz a faculdade certa na universidade certa, pois lugar nenhum no Brasil, e talvez no mundo, poderia me preparar para ser editora de livros. Mas o que ainda me perturba bastante é essa minha falta de preparo para o chamado "mercado". Sei que é pecado dizer isso, mas eu não posso mais esconder que não me sinto à vontade com margens de lucro altas, produtos que causem riscos à saúde ou que sejam feitos a partir da degradação da natureza. Sendo mais direta, eu não me sinto à vontade com o modelo de empresa lucrativa que temos hoje e desconfio de tudo que tenha as palavras "sustentável" e "sustentabilidade"!

Só que essa mesma alma, eu, porém, comprou hoje a Você S/A por pura e espontânea vontade (e já fez isso outras vezes e tb comprou livros sobre estratégias de negócios, "desenvolvimento pessoal", liderança, gerenciamento de pessoas, tempo, qualidade...), faz mba em gerenciamento de projetos e busca construir uma carreira sólida e "brilhante" dentro do mercado editorial. Pensa também em como atingir a excelência nos processos, em como mensurar qualidade editorial e em como gerenciar o tempo de forma que possa realizar nos próximos 15 anos tudo que anotou em uma planilha devidamente guardada e atualizada.

Fico brincando de metonímia, fingindo que a parte não faz o todo, mas, minha esquerda faz questão de desmascarar isso dizendo que, porra, é óbvio que a parte já é o todo em essência. Eu sou um gene da empresa, eu contribuo para que ela seja como se apresenta. Mas minha direita acha que eu sou comunista e acha que se o todo tem uma parte como eu é porque esse todo já foi contaminado por pensamentos subversivos.

(A ser continuado...)


4 comentários:

Geisy disse...

Se você fosse de esquerda, saberia o que é dialética e nunca mais diria que a parte é o todo.

Isso é coisa de pós-moderno!

Se não entender, vem aqui no quarto. ;)

todoseles disse...

Se eu fosse de esquerda pressinto que saberia muito menos do que sei sendo "hmmmm complexa"... Ok, é preconceito...

Juliana disse...

ih, fodeu. isso dá pano pra uma mangueira inteirinha.
hora de ir embora. depois comento com amor.

Anônimo disse...

Ehhh Oi Cindy e demais leitores, não acredito que estou respondendo pois nunca participei de nenhum blog antes, nem sei muito bem como fazer isso, mas vc merece o meu esforço querida!! Pra mim o que está em questão não é bem se vc é de esquerda, direita ou se está em crise, mas a sua reflexão que eu conheço em parte sobre nosso papel no mundo e o mundo em nós. Acho o máximo uma pessoa como vc trabalhar em uma grande empresa e estar num MBA idiota como o que estamos fazendo! Quanto a UFRJ ser de esquerda tenho algumas muitas dúvidas a respeito, mas discutimos isso depois. O que importa dizer é que achei bacana a sua reflexão, quero ver a sua EAP depois...rsrsrsrs
Bj