25/07/06
A luz das velas formam no teto dois círculos cheios em constante movimento. Brigando entre si. Parecem duas luas cheias. Como a que o mar refletia hoje quando eu fui dar um mergulho rápido. Três ou quatro, na verdade. Depois eu fiquei sentada na areia do fundo do mar. Sentada mesmo, de pernas cruzadas e tudo, com a água até o pescoço. O mar aqui é muito tranquilo: sem ondas, sem correntes, sem profundidade, sem buracos inesperados, sem animais ameaçadores. Às vezes aparece umas águas-vivas de cor vermelha. Queimam. Vira um acontecimento. Sai nos jornais, os vizinhos comentam, os banhistas se cagam de medo.
Mesmo sendo tudo calmo e constante, os cidadãos são medrosos. Têm medo de cachorro, de salmonela, de ir muito longe quando no mar, de pegar gripe por causa de janela aberta, de nadar à noite, de doença, de morte. Gente frágil...
Águas-vivas são acontecimento, mas alguém que se matou pulando nos trilhos do trem nem ganha nota no jornal. Isso já aconteceu duas vezes desde que cheguei aqui. O tráfego ferroviário se embaraça, os trens atrasam e os alto-falantes só dizem que houve um acidente na estação tal. Ninguém comenta, mas todos sabem que foi suicídio. Mas eu não consigo esquecer. Quero saber se era um corpo que me fazia chegar atrasada ao trabalho, se o maquinista viu a cara do suicida, quem era?
A luz das velas formam no teto dois círculos cheios em constante movimento. Brigando entre si. Parecem duas luas cheias. Como a que o mar refletia hoje quando eu fui dar um mergulho rápido. Três ou quatro, na verdade. Depois eu fiquei sentada na areia do fundo do mar. Sentada mesmo, de pernas cruzadas e tudo, com a água até o pescoço. O mar aqui é muito tranquilo: sem ondas, sem correntes, sem profundidade, sem buracos inesperados, sem animais ameaçadores. Às vezes aparece umas águas-vivas de cor vermelha. Queimam. Vira um acontecimento. Sai nos jornais, os vizinhos comentam, os banhistas se cagam de medo.
Mesmo sendo tudo calmo e constante, os cidadãos são medrosos. Têm medo de cachorro, de salmonela, de ir muito longe quando no mar, de pegar gripe por causa de janela aberta, de nadar à noite, de doença, de morte. Gente frágil...
Águas-vivas são acontecimento, mas alguém que se matou pulando nos trilhos do trem nem ganha nota no jornal. Isso já aconteceu duas vezes desde que cheguei aqui. O tráfego ferroviário se embaraça, os trens atrasam e os alto-falantes só dizem que houve um acidente na estação tal. Ninguém comenta, mas todos sabem que foi suicídio. Mas eu não consigo esquecer. Quero saber se era um corpo que me fazia chegar atrasada ao trabalho, se o maquinista viu a cara do suicida, quem era?
26/07/06
Hoje eu fui queimada por uma água-viva. O Niko, que mora aqui desde que nasceu, disse que nunca conheceu alguém que foi queimado por uma água-viva.
Hoje eu fui queimada por uma água-viva. O Niko, que mora aqui desde que nasceu, disse que nunca conheceu alguém que foi queimado por uma água-viva.
6 comentários:
que coisa estranha! ontem antes de dormir fiquei lendo sobre águas-vivas. dói muito?
aqui é assim também, dizem que não podem divulgar os suicídios nos metrôs, pontes etc. para não dar idéia aos menos criativos.
vá entender.
Que delícia de texto!
Mas você consegue mesmo ficar em paz na água aí sem congelar?
Outra coisa: Por que há tanto "suicida de trilho"? O metrô aqui quando pára costuma ser suicídio também e ninguém comenta, o que sabemos é que "o metrô está em manutenção". Mas, antes de discutir por que razão isso ainda é tabu, prefiro pensar em por que diabos alguém acha que deve ser bom morrer assim. Afinal, tem sempre um prédio alto de onde pular, há ônibus correndo prontinho pra atropelar, têm remédios mil que matam com soninho gostoso, têm armas que explodem uma cabeça em segundos... Morrer em trilhos deve ser doloroso, eu hein, pra quê?
Pára tudo. Acabei de lembrar que a Fernanda não nada e que eu passei por maus bocados pra ela molhar a cabeça em Ipanema à noite, depois de uma overdose de amora com Nutella e pouco antes de uma tempestade. Confere?
Que c tava fazendo no mar?
No mar icebérguico da Dinamarca, ainda por cima!
hahahahahahahaah!
É verdade, Juli... Eu tenho um pânico gigante de mar. Mas eu descobri que na verdade o pânico é de ondas... E eu tô comecando devagar a fazer as pazes com Iemanjá.
E sim, o mar aki no verão é uma delícia! Bom, pelo menos tava no verão de 2006.
É, suicida de trilhos é meio inexplicável mesmo.. Eu nunca tinha pensado nisso. Coitado do maquinista, né?
Água-viva que queima é cnidário. Água-viva que não queima é ctenóforo.
Grata.
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