domingo, 11 de novembro de 2007

Dona Izabel

Foi na São Clemente, eu estava chegando no ponto de ônibus, aquele primeiro ponto da São Clemente. Então de um ônibus, era um 434, caiu uma pessoa. Foi o que precebi primeiro: caiu uma pessoa. Depois eu percebi o tamanho da pessoa e pensei caiu um menino, os cabelo eram curtos. Então eu vi que o menino usava vestido, caiu uma senhora. Não sei em qual fração de segundo isso tudo passou na minha cabeça. Deu pra ouvir o baque do corpo no chão. Dona Izabel, depois descobrimos o nome, Dona Izabel caiu do ônibus na quinta-feira dia 8 por volta das 10:10 da manhã. Ela estava confusa não respondia, não se mexia, tivemos que procurar na sua bolsa a carteira, uma bolsinha de plástico dessas que as mães da gente guardam dizendo que sacola boa! e começam a carregar depois de uma certa idade. Eu tremia tentando falar com a polícia. No 109 mandaram ligar pro 102 ou 103. No 102 mandaram ligar pro 103. No 103 disseram que a ambuância estava a caminho. Dona Izabel caída, saía sangue do ouvido e da cabeça. Aos poucos ela começou a melhorar, quis até sentar, o polícia paisana era socorrista e não deixou. Sentei ao lado dela, segurando a mão dela, a minha mão ela apertava com força e apertava também os lábios e passava as mãos pela cabeça machucada. Perguntei se doía, onde doía, e aquela gente toda em volta, mil palpites, falando e falando e eu sentada no asfalto, vigiando a bolsa de Dona Izabel pra não sumir, segurando a mão de Dona Izabel porque era só o que eu podia fazer. O polícia paisana achou melhor pôr a bolsa embaixo da cabeça dela, também achei melhor. A despachante do ponto (é da Amigos Unidos, acho) conseguiu falar com uma neta, depois com um filho. A ambulância chegou ao mesmo tempo que o filho de Dona Izabel ligava pro celular dela - benditos sejam os celulares - disse que ia encontrá-la no Miguel Couto. Dona Izabel na ambulância, ainda perguntei se queria que eu fosse junto. Disse que não, minha filha, muito obrigada e pediu desculpa pelo trabalho - velhinho está sempre pedindo desculpa pelo trabalho. O socorrista da ambulância me disse que da próxima vez não tocasse o sangue. Uma moça cujo nome eu esqueci e que me chamava de Juliana a cada 30 segundos me levou pra lavar as mãos na sua casa, me deu álcool, ofereceu água. Voltei pro ponto e às 10:30 estava no ônibus.

15 comentários:

Geisy disse...

Tomara que ela esteja melhor. :-|

Tadinha... Deu vontade de chorar. :-|

marta disse...

Em 20 minutos vc passou por milhões de sensações: visão (alguém caiu), audição (um corpo caiu no chão), tato, sangue, pessoas em volta falando etc.
E tudo isso se mistura.
E tudo isso em 20 min.

Quanto a esses casos com ônibus, já vi vários, principalmente depois que a descida foi pra parte traseira. Os motoristas não estão nem aí.

Rafiux disse...

clap clap clap! Gostei do relato.
*
Mesmo!

ju coniglio disse...

Eu só tinha visto um antes, no mesmo ponto. Tabém uma senhora, mas aquela não se machucou muito; queria até voltar pro mesmo ônibus de onde caiu.

E nem sei se ela está melhor, na hora não lembrei de anotar o telefone dela ou do filho pra pedir notícia. Só depois pensei nisso...

Acho que não conheço vocês, né. Menos a Geisy, enfim. Rafiux, obrigada. :)

Juliana disse...

então, eu hoje fui pegar ônibus ali e fiquei pensando na dona izabel. a despachante é mesmo da 'amigos unidos' e eu tenho medo dela. ela grita o tempo todo 'copacabana, real grandeza, cemitério tem lugar!'. vê lá que coisa estranha de gritar.
quando sai sangue do ouvido é porque foi muito grave, né?
o texto tá super bom mesmo.:)

Guadalupe B disse...

Oi, Juliana! Fernanda, a mineira, lembra?
Pois é, adorei seu texto! Gostoso de ler.:)
Mas o que é uma despachante? Só conheco despachante do DETRAN e mesmo assim não sei exatamente o que eles fazem... Só sei que não gosto do nome dessa profissão, näo soa bem...

Juliana disse...

despachante é a pessoa que fica em um dos pontos de ônibus gerenciando os horários de saída, medindo o tempo do percurso etc.

ju coniglio disse...

Juli, eu tbm tinha medo dela. Ou melhor: eu não ia com a cara dela. Agora vou, que coisa. Minha mãe disse que sangue do ouvido é bem grave, mas como ela estava consciente e tudo, sei lá. :/

A Fernanda mineira eu lembro. :)

Guadalupe B disse...

Ah tá... Brigada, Juli!
Nossa, isso não existe em Minas.... Mas já consigo imaginar a tal despachante como uma pessoa bem medonha...

Geisy disse...

Nossa, hoje um 433 atropelou 10 pessoas em frente ao Mourisco.. Que merda... E há pouco tempo um 157 atropelou e matou gente na São Clemente também.

Que perigo! :-|

ju coniglio disse...

caceta, e eu que ando de ônibus pensando que é mais seguro... deve ser por isso que metrô lota.

marta disse...

Caralho!!!

Viação Vila Isabel tá mandando ver, hein!!!

Que merda!!!

(desculpem o palavreado, mas só assim mesmo pra falar sobre esses vermelhinhos)

Anônimo disse...

Po, os motoristas dos vermelinhos (laranjinhas?)são terríveis. O 438 então nem se fala, como corre. Pior que ele só o 455... Acho que seguro mesmo é ficar em casa, rs.

marta disse...

Tá vendo meu problema com cores? Lembra que falamos disso no bar???

rsss...

Eu vejo vermelho!! :P

Anônimo disse...

Ai, eu tenho altas discussões filosoficas desde a epoca do colegio por causa da cor do 433 e companhia. Eu acho q é laranja, mas o mundo diz que é vermelho, rsss. Como não existe um 'olho absoluto´a gente nunca vai saber, ne?! e viva a duvida! rss