sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Poesia bonita
A formosura do teu rosto obriga-me
e não ouso em tua presença
ou à tua simples lembrança
recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a tua cara,
como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só a tua mão,
a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e torna apetecível:
caieiras, desembocaduras de esgotos,
idéias de morte, gripe, vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas,
rispidez de teu lábio que suporto com dor
e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em mim sonhou comigo
e passou um dia esquisito, o coração em sobressaltos à campainha da porta,
disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que amor seja a palavra.
'Penso em você' - me diz e estancarei os féretros,
tão grande é minha paixão.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
O amor está no ar
Depois disso, vou passar um tempo sem postar vídeo.
Enjoy it.
(Note a progressão do clipe)
Gogol Bordello - start wearing purple
Tenho ouvido falar nessa banda constantemente, de diferentes pessoas. Demorei pra ouvir. E qdo ouvi, eu ja tinha ouvido!! É trilha sonora do lindo filme Everything is Illuminated.
Eu adoro essa música!
A banda tem 10 membros de países diferentes: Ucrânia, Russia, Israel, Etiopia, EUA, Equador, China-Escócia, Thailândia-EUA, Japão-Romênia.
Espero que gostem!
Little Dragon
Cara! Alguém pode me dizer o que é esse clipe? E a fumaça? E as figuras mascaradas fazendo coreografias (medo)? E os caras da banda mexendo com a cabeça?
Eu tinha dito no comentário do post aqui embaixo, que o clipe era tosco. Mas tosco é muito light pra definir isso. rsss...
=)
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Teresa, minha empregada há 25 anos.
Vai todo mundo tomar no cu.
Eu quero muito que ela fique boa logo. E quero que quem acredite mande umas good vibes. Brigada.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
A língua portuguesa e o papel higiênico de tras os montes
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
António Lobo Antunes de novo
A solidão das mulheres divorciadas
"Aos fins-de-semana, quando não saio com a minha prima Bé, fico em casa a ver televisão. Ver televisão quer dizer regar as plantas da marquise, ler o meu horóscopo nas revistas, desfazer o tricot do domingo anterior, mudar de canal de vinte em vinte segundos a pensar em matar-me. O problema é que assim que me levanto para tomar os lexotans todos de uma vez a minha mãe telefona-me de Alcobaça a saber como estou, oiço-lhe os gritos no atendedor de chamadas (a minha mãe, que tem um medo danado dos telefones, sempre falou aos gritos) e como não é possível a gente suicidar-se e conversar com a mãe ao mesmo tempo desisto das pastilhas e garanto-lhe que estou óptima, que não tenho febre, que fumo no máximo três cigarros por dia, que como bem, que não emagreci
(- De certeza que não emagreceste?)
que para a semana a visito em Alcobaça sem falta e que qualquer dia, palavra, encontro um rapaz como deve ser
(- Não acredito que não haja um rapaz como deve ser no teu emprego, filha)
e me torno a casar, e desligo o telefone com um tal cansaço e uma tal dor de cabeça que a única coisa de que tenho vontade é de um aspegic e silêncio, e deixei de ter ganas de me suicidar visto que uma pessoa não consegue matar-se se estiver maldisposta.
Nos fins-de-semana em que saio com a minha prima Bé, vamos à Loja das Meias e à Escada sonhar com blazers de cachemira
(- Pode ser que com o subsídio de Natal lá chegue)
e casacos compridos, chateamo-nos como nos peruas nos filmes de que os jornais gostam, encontramo-nos num bar com colegas da escola dela que descobriram na semana passada, um restaurante italiano baratíssimo em Alcântara, e já me sucedeu acordar, aos domingos de manhã num apartamento de Campo de Ourique ou do Beato ao lado de professores de Matemática com iogurtes fora do prazo no congelador, um chinelo esquecido no bidé e um cinzeiro de folha a transbordar beatas no soalho, junto de uma chávena de café quebrada. Incapaz de tomar banho num chuveiro em que faltam sabonete e a água para além de se achar ocupado por um montão de jornais velhos, volto a toque de caixa para o Lumiar sem me despedir do barbudo que ressona de queixo na almofada
(- Não acredito que a Bé não conheça um rapaz como deve ser)
com um ombro fora do pijama descosido, e adormeço até que os gritos de Alcobaça me acordam, de coração aos pulos para inquirirem, ansiosos, no atendedor de chamadas, se tenho abusado dos fritos.
Não abuso dos fritos, não abuso do tabaco, não abuso do álcool, não abuso do sexo, não abuso de nada, mãe: oiço crescer o pêlo da alcatifa, mudo de vinte em vinte segundos de canal e leio o meu horóscopo na penúltima página dos magazines femininos, a seguir ao caderno da moda e a um artigo que explica como um cinto de ligas e uns sapatos vermelhos poderiam mudar a minha vida afectiva. Com um cinto de ligas os iogurtes fora do prazo desapareceriam do congelador? Com sapatos vermelhos encontraria chuveiros sem jornais? O meu horóscopo para esta semana, dividido como sempre em três partes, Saúde (cuidado com o fígado!), Finanças (atenção às despesas excessivas!) e Amor, prevê para quarta-feira, no que respeita às paixões, um encontro inesperado que me alterará para sempre a existência. Quarta-feira foi ontem e o encontro inesperado que tive consistiu em esbarrar com o meu ex-marido no metropolitano: deixou crescer o bigode, vinha acompanhado por uma mulata com metade da idade dele e nem sequer me viu. Ter-me-á visto alguma vez? Em todos os canais de televisão só passam novelas brasileiras. Oiço a chuva de Outubro contra os vidros e o casal do andar de cima a gemer ao ritmo da cama. Se me levantar para tomar os lexotans todos a minha mãe vai desatar aos gritos no atendedor de chamadas, de modo que o melhor é ficar quietinha no sofá a olhar as plantas e o retrato do meu sobrinho bebé sem pensar no suicídio. Para quê? Durante seis meses poupo nos almoços (uma bica, um croissant e um pastel de bacalhau comidos em pé ali no Centro) compro o blazer da Escada e uns sapatos vermelhos, a colega que vende ouro no escritório prometeu baixar-me as prestações do anel, e passo o serão sozinha, de blazer, sapatos e cachucho, lindíssima, a mudar de canal e a ouvir o pêlo da alcatifa crescer."
Lista: os piores clipes de Madonna
2- Gambler (o que foi isso?)
3- Holiday (o original)
4- La Isla Bonita
5- Like a Virgin (o original - tem um cara com uma máscara de tigre ou leão ou algo parecido)
6- Material Girl
7- Bad Girl (mais pela música do que propriamente pelo clipe)
8- Who’s that Girl
9- You’ll See (restos de Take a Bow)
10- Fever (ok... muita gente vai querer me matar, mas, neste caso, nenhum outro critério foi utilizado a não ser meu gosto pessoal – não gosto desse clipe, ok?)
ps: Juli, não briga comigo!!!!!
=)
domingo, 25 de novembro de 2007
La Oreja de Van Gogh
LODVG é uma banda espanhola de música pop que lançou seu primeiro disco em 1998 (Dile al sol).
Essa música do vídeo se chama Rosas e faz parte do cd "Lo que te conté mientras te hacías la dormida". É uma música muito fofa.
Tudo bem... as músicas da banda são bem popzinhas, grudentas, meio breguinhas e tal. Eu ADORO!! rss... É muito bom de se cantar!
E, gente, eu adoro o sotaque espanhol!!!
=)
ps: eu quero um casaco amarelo igual ao da Amaia Montero.
sábado, 24 de novembro de 2007
António Lobo Antunes
Ele fala muito da solidão das gentes que vivem, sem querer, no lugar comum.
A propósito de ti
"Somos felizes. Acabámos de pagar a casa em Outubro, fechámos a marquise, substituímos a alcatifa por tacos, nenhum de nós foi despedido, as prestações do Opel estão no fim. Somos felizes: preferimos a mesma novela, nunca discutimos por causa do comando, quando compras a TV Guia sublinhas a encarnado os programas que me interessam, lembras-te sempre da hora daquela série policial que eu gosto tanto, com o preto cheio de anéis a dar cabo dos Italianos da Máfia.
Somos felizes: aos domingos vamos ao Feijó visitar a tua mãe, ficas a conversar com ela na cozinha e eu passeio com o Indiano, filho de uma senhora que mora lá no pátio; assistimos ao basquete dos sobrinhos dele no pavilhão polivalente, comemos uma salada de polvo no café durante os resumos do futebol, e voltamos para Almada à noite, com o jantar que a tua mãe nos deu numa marmita embrulhada no Record, a tempo de assistir às perguntas sobre factos e personalidades do concurso em que a apresentadora se parece com a tua prima Beatriz, a que montou um pronto-a-vestir no centro comercial do Prior Velho.
Somos felizes. A prova de que somos felizes é que compramos o cão no mês passado e foi por causa do cão que tiramos a alcatifa, que as unhas do animalzinho rasparam de tal forma que já se notava o cimento do construtor por baixo. Andamos a ensiná-lo a não estragar as cortinas, pusemos-lhe uma coleira contra as pulgas depois de uma semana inteira a coçarmo-nos sem entender porquê, passados dois dias o Fernando começou a coçar-se também e a acusar-me de cheirar a cachorro e levar pulgas para a repartição, o chefe avisou-me do fundo
- Veja-me lá isso, Antunes
de modo que pus também uma coleira contra as pulgas debaixo da camisa. e o Dionísio, espantado
- Deste em cónego ou quê?
E eu, envergonhado, a abotoar o colarinho
- É uma coisa chinesa para o reumatismo, a Jóia Magnética Vitafor é uma porcaria ao pé disto.
e como nas Finanças se respeitam o reumatismo e as coisas chinesas, nunca mais me maçaram.
Às segundas, quartas e sextas sou eu que vou lá abaixo levar o cão a fazer chichi contra a palmeira, às terças, quintas e sábados é a tua vez, e o que não vai lá abaixo fica à janela a olhar o bichinho a cheirar os pneus dos automóveis, com um ar sério de quem resolve problemas de palavras cruzadas que os cães têm sempre que farejam postes e Unos.
Somos felizes. Por isso não me preocupei no sábado com o animal, muito entretido na praceta, e tu atrás dele, de trela enrolada na mão, sem olhares para cima nem dizeres adeus, a nadares devagarinho até desapareceres na travessa para a estação dos barcos. Foi anteontem. Às onze horas tirei o cozido do forno e comi sozinho. Ontem também. Hoje também. Não levaste roupa, nem pinturas, nem a fotografia do teu pai, nada.
Ainda há bocadinho acabei de gravar o episódio da novela para ti. A tua mãe telefonou, a saber porque é que não fomos ao Feijó, e eu disse-lhe que daqui a nada lhe ligavas. Porque tenho a certeza de que tu não te foste embora, visto sermos felizes. Tão felizes que um dia destes vou comprar um microondas para, se chegares a casa, teres a comida quente à tua espera."
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Meus vizinhos mandando mal...
Sob a influência de Saturno
Melancolia (do grego μέλας "negro" e χολή "bilis") é um estado psíquico de depressão sem causa específica. Se caracteriza pela falta de entusiasmo e predisposição para atividades em geral.
No Século V a.C., Hipócrates classificou melancolia como doença. Hipócrates criou a teoria dos 4 humores corporais (sangue, fleugma ou pituíta, bílis amarela e bílis negra) sendo o equilíbrio ou o desequilíbrio responsáveis pela saúde. Um indivíduo sob influência de Saturno levava o baço a secretar mais bílis negra, alterando o humor do indivíduo, escurecendo seu humor, levando ao estado de melancolia.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Pão de batata
Mas algumas coisas gosto de fazer e, dentre elas, estão os pães. Creio que isso se deve ao fato de trabalhar a massa, de sovar... isso desestressa.
Essa receita é especial, pois eu sempre fazia lá em casa, em Niterói, quando dividia apartamento com Yeso e Andrea. Eu adorava fazer! E depois de pronto sempre nos divertíamos: os 3 ou com amigos.
E depois, não há nada melhor do que comer com requeijão um pão de batata que acabou de sair do forno e está soltando fumacinha!!!
Ingredientes:
250g de batata cozida e passada no espremedor;
100g de margarina;
2 ovos;
30g de fermento para pão (2 tabletes);
2colheres de sopa de açúcar;
um pouco de sal;
farinha de trigo até desgrudar das mãos (+/- 400g).
Preparo:
Colocar numa tigela o açúcar e o fermento; amassar com uma colher até ficar uma pasta bem mole. Juntar a batata, a margarina, o sal e os ovos. Misturar bem. Adicionar a farinha aos poucos até desprender das mãos. Fazer bolinhas arredondadas e colocar em tabuleiro untado e polvilhado. Deixar descansar até dobrar de tamanho, coberto com um pano. Pincelar com gema e levar ao forno até dourar.
=)
Gente Desconhecida
Viu essa menina, me mostrou e eu achei que vcs podiam gostar também.
É muito estranho procurar gente que não existe pra gente, eu acho.
The Crash
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Minha pequena colecão de esquisitices 1
Scissor Sisters
This used to be the life but I don’t need another one.
Good luck cuttin’ nothin’, carrying on, you wear them gowns.
So how come I feel so lonely when you’re up getting down?
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Primeira neve
Todas as manhãs escuras: calcinha, sutiã, meia de algodão, meia-calça de lã, meia de lã, camisete de lã, camiseta de algodão de manga longa, cardigã, suéter, calça jeans, cachecol, luvas, gorro e casaco wind-breaker com capuz. Há duas semanas foi o primeiro dia de neve. Eu nunca vou me acostumar, sempre acharei incrivelmente lindo essas bolinhas caindo do céu tão de leve e cobrindo tudo de branco em minutos. Lembro da primeira vez que vi a neve. Quando olhei pela janela e vi tudo embranquecendo, desci correndo cinco lances de escada e fiquei parada na calçada da rua movimentada, hora do rush. Todo mundo passando sem notar nada, ou reclamando no frio. Quando olhei pra manga do meu casaco, tinha uma floco de neve igualzinho aqueles que a gente vê desenhado, sabe? Uma estrelinha. Sim, é verdade! Os flocos têm mesmo aquele formato. E eu tive a sorte de ver um assim, de cara, na minha primeira neve. Nunca mais aconteceu.
(Abstraia o video, só ouça a música)
domingo, 18 de novembro de 2007
A pedidos - Cirilo!
Meus vizinhos mandando bem (as always...)
Adorei essa música & vídeo. É de Sigur Rós, uma banda islandesa. O nome da música vem da frase de um weatherman islandês (o que será weatherman em português?) fazendo previsão de tempo na época da guerra de Kosovo: "í dag viðrar vel til loftárása" (“hoje é um bom dia para ataques aéreas”).
Rua dos Andradas, 36-D
Centro do Rio.
Mais especificamente, Saara.
Saara é um nome ótimo por duas razões - no mínimo:
1º O varejo famosíssimo do Saara tem ascendência árabe no temperamento. Comércio de rua, tudo baratinho, montão de contrabando.
2º O nome quer efetivamente dizer alguma coisa: Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega e, portanto, SAARA.
Mas esse post é mesmo pra contar sobre uma pastelaria ali na Saara. O nome é 'Pastelaria Chic's'.
Tenho alguns argumentos: o pastel é delicioso, sempre quentinho, o povo come tanto que não dá tempo de esfriar; é baratinho, dá pra comer pastel e laranjada (especialidade da casa) por R$2,00; os copos são de papel (super ecológico e decoradinhos com laranjinhas); os atendentes são sempre sorridentes!!!
Mas o melhor é a decoração!
sábado, 17 de novembro de 2007
Clarice Lispector
Mas ela é boa mesmo. E sempre que leio faço anotações de canto de página, meus livros são rabiscados e cheios de datas. É impressionante como sempre é uma referência pra alguma alegria ou problema.
Deixo dois trechos de duas crônicas, da compilação de crônicas Aprendendo a Viver.
:. Você tem um dinamismo interno que é um pouco violento e impulsivo. "Que eu seria até capaz de fazer coisas mas eu mesma as arrasaria depois. E que só existe uma lei: a da causa e do efeito .:
:. E, apesar de admirar a inteligência pura, acho mais importatepara viver e entender os outros, essa sensibilidade inteligente. Inteligentes são quase que a maioria das pessoas que conheço. E sensíveis também, capazes de sentir e de se comover. O que, suponho, eu uso quando escrevo, e nas minhas relações com amigos, é esse tipo de sensibilidade, uso-a mesmo em ligeiros contatos com pessoas, cuja atmosfera tantas vezes capto imediatamente .:
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Interpol no Brasil
Eis o fenômeno, recebido em forma de newsletter no meu e-mail:
"Tickets are on sale now for February shows in Australia and New Zealand:
- 14 February - Auckland NZ, The Logan Cambell Centre Tickets
17 February - Perth, Metro City Tickets Tickets
19 February - Brisbane, Convention Centre Tickets
21 February - Sydney, Hordern Pavilion Tickets
25 February - Melbourne, Festival Hall Tickets
26 February - Adelaide, Thebarton Theatre Tickets
Interpol have announced shows in South America for March.
11 March - Sao Paulo, Via Funchal - Tickets coming soon!
13 March - Rio, Findicao Progresso - Tickets coming soon! (sim, escrito bem errado... mas quem se importa? :D)
15 March - Belo Hoizonte, Chevrolet Hall - Tickets coming soon!'
INTERPOL VEM EM MARÇO NO BRASIL, SIM, TOCAR EM TRÊS LUGARES SEM SER EM FESTIVAIS COMPARTILHADOS COM OUTRAS BANDAS!!!
Ingressos pra apresentação já estão à venda no Via Funchal....o preço tá bem bacana: R$ 100,00 a inteira - portanto, R$ 50,00 a meia! (Que o Interpol possa colocar vergonha na cara do Tim $$$ Festival...)
E aí, algum outro mega fã topa fazer uma maratona em março também? ;)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Whip it
DEVO - Festival Planeta Terra - São Paulo, dia 10/11
http://www.youtube.com/watch?v=tHfFQRTG0nM&feature=related
Gostaria que os festivais de música que acontecem no Rio fossem tão bons quanto os que rolam em São Paulo. Os produtores e organizadores daqui deveriam ter uma aulinha com os manus e as minas de lá.
VII MOSTRA DE TEATRO DA UFRJ - INFORMAÇÕES TÉCNICAS
A entrada é franca e sincera, mas é necessário chegar com uma hora de antecedência para obter a senha.
Antes de passar a programação, informo que este é apenas um post técnico e que minhas impressões sobre os espetáculos da mostra virão em posts seguintes.
13, 14 e 15 de novembro, às 20h
Amém - a roleta russa dos salmos, de Felipe Barenco
Maria decorou o livro dos salmos e quer vingança. Bia fugiu do rebanho e foi pra Índia. Clara tem mania de limpeza e arrasta uma máquina de lavar. Lola é uma noiva destruída. Vera leva choques de Deus. Gilda é uma prostituta assassinada. Todas elas presas numa igreja.
Direção: Felipe Barenco
16, 17 e 18 de novembro, às 20h
Alice e o que ela encontrou por Ali, de Gabriel Tupinambá, livremente inspirado em Lewis Carroll e Jan Svankmajer
Montagem inspirada no texto de Lewis Carroll, apoiada na perspectiva sombria do diretor de cinema Jan Svankmajer, Alice e o que ela encontrou por Ali é uma pesquisa sobre o espaço, a simplicidade e sobre o medo que temos em relação aos sonhos que se repetem. Para ver Alice, é necessário usar os olhos.
Direção: Nathalia Caetano
20, 21 e 22 de novembro, às 20h
O veredicto, uma história para a Senhorita Felice B., numa livre inspiração, ironicamente sombria, em Kafka, adaptação de Liliane Xavier, Márcio Newlands e Marise Nogueira da obra de Franz Kafka
George Bandemann, um jovem comerciante, alimenta seu mais íntimo interesse escrevendo cartas para um amigo refugiado na Rússia.
Dúvidas sobre o que dizer e respostas que nunca chegam são interrompidas por uma pergunta pertubadora de seu velho pai: “...você realmente tem esse amigo em São Petesburgo?”. Ao receber sua sentença de morte, Georg tenta escapar do terror que o assombra saltando sobre o rio. O que é ficção, o que é realidade para alguém condenado a escrever para seu próprio fantasma?
Direção: Liliane Xavier
23, 24 e 25 de novembro, às 20h
Dias Felizes, de Samuel Beckett
Um deserto causticante - um casal - Winnie (ela) - Willie (ele) - ela enterrada num monte de areia - em meio a palavras - ele atrás do monte - ela fala - algumas pausas - perguntas - ele quase nunca responde - a campainha toca para acordar e dormir - ações - uma sacola e alguns
objetos para passar o dia - O belo dia que este ainda vai ser !
Direção: Dani Lossant
27, 28 e 29 de novembro, às 20h
Judite, de Theo Fellows
Inspirado na história bíblica de Judite, o espetáculo propõe uma reflexão sobre as origens dos nossos atos, sobre a origem das nossas próprias origens. Uma viúva sem filhos, segregada em sua cidade, abandona seu lugar de silêncio e preces para salvar seu povo da morte. Sua única arma é o seu corpo, e talvez haja um deus, talvez não. Talvez ela fale somente com o vento.
Direção: Theo Fellows
30 de novembro, 01 e 02 de dezembro, às 20h
Dos tais laços humanos, baseado nos contos: Natal na barca, Apenas um saxofone e Uma branca sombra pálida, de Lygia Fagundes Telles, adaptação do Grupo 6 Marias e meia
Cinco mulheres. Três histórias. Já: fuga, escolha, cores. Fé, flores, força, fumo. Amor. Perda, memória. Teia. Borboleta, peito, quente. Dor, gozo. Morte. Vazio, só...
Direção: Luciana Barboza
04, 05 e 06 de dezembro, às 20h
Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues
O mar! Quer levar toda a família principalmente as mulheres. Basta ser uma Drummond que ele quer logo afogar. E depois das mulheres será a vez dos homens. E quando não existir mais família, a casa! Então o mar levará a casa, os retratos, os espelhos, tudo.
Direção: Sunshine Pessanha
07, 08 e 09 de dezembro, às 20h
Uma temporada no inferno, de Arthur Rimbaud, adaptação de Débora Paganni e Marcos Bassine
Arthur Rimbaud, gênio maldito da poesia do século dezenove: um relâmpago verdejante cortando o horizonte negro. Alguns chamam o seu brilho de “celestial”, outros de “mau e pesaroso”. Sua poesia tornou-se inspiração eterna. Sua vida, exemplo de desapego. Aqui no Cabaret Verde, o encontro de Rimbaud com sua obra cria um novo universo, onde tudo é permitido.
Então, respire fundo e mergulhe...
Direção: Débora Paganni
11, 12 e 13 de dezembro, às 20h
Sarapalha, de João Guimarães Rosa, adaptação de José Ferro
Embrenhados nos confins de Minas Gerais, dois primos são acometidos pela malária e encontram-se em fase terminal da doença. Isolados, entre delírios e calafrios, relembram, com particular poesia, os dias passados e transitam pelo universo do imaginário.
Direção: Luciana Brumm
14, 15 e 16 de dezembro, às 20h
Mundo Grampeado - Uma Ópera Tecno-Tosca, de Marcus Galinha
É hoje. É agora. É o Brasil. É o teatro. É maluquice e verdade. É Realismo Repugnante. A primeira novela radiofônica de Realismo Telefônico. Entrem... e não desliguem os seus celulares.
O show polifônico vai começar!
Direção: Marcus Galinha
terça-feira, 13 de novembro de 2007
This Heart is a Stone
Adoro esse ping-pong. :)
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Pianices 2
George Shearing e Peggy Lee 59
Moço qualquer tocando Guns'n Roses no piano desafinado.
Pra Cindy. David Bowie.
Pianices aleatórias.
domingo, 11 de novembro de 2007
Dona Izabel
Dirty Dancing
A história é basicamente a seguinte: uma família riquinha vai pra um resort. A irmã feia se apaixona pelo professor de dança legal e rebelde. A dançarina que se apresentava com ele faz um aborto e precisa de alguém para substituí-la. Quem se oferece? Babe, a irmã feia e dura como um pau. Ela é apaixonada por ele, ele acha ela uma loser, eles ensaiam o dia todo, começa a rolar um clima e tchum. Mil coisas dão errado.
Mas o final é esse aí embaixo. =D
sábado, 10 de novembro de 2007
Saindo da moita
Quando conseguir organizar meu tempo um pouquinho eu saio de vez da moita e passo a escrever alguma coisa aqui.
Beijos a todos. Meninas, saudades.
Simples (ou não)
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Eds
A lista da Juli sobre pintores me fez pensar. Comecei a lembrar os artistas de quem gosto e o motivo de gostar. Reparei que me atraio pelas pinturas que me fazem sentir. Ok, esse é o motivo das artes, fazer sentir. Hum... as palavras não saem. Sorry.
Voltando, lembrei que dois dos meus pintores favoritos fazem obras impactantes. Cada um a sua maneira: um mais introspectivo, mais sutil e, talvez por isso, extremamente forte, e outro mais expressionista, visceral. São meus dois Eds. O Edward e o Edvard. O Hopper e o Munch. O nova-iorquino e o norueguês.
E sobre O Grito (de Munch):
“I was out walking with two friends - the sun began to set - suddenly the sky turned blood red - I paused, feeling exhausted, and leaned on the fence - there was blood and tongues of fire above the blue-black fjord and the city - my friends walked on, and I stood there trembling with anxiety - and I sensed an endless scream passing through nature.”
That’s it.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Palavra Cantada :: O Rato
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
5+ Frescuras Nasobucais
2. Bafo de cigarro + boca seca.
3. Cheiro de espirro.
4. Não beber na garrafa do outro porque tem nojinho.
5. Lavar a louça duas vezes: uma depois de usar, outra antes de usar.
Pianica
Música-tema do meu namoro com Ana Rachel.
Em homenagem à compra da minha escaleta, mais conhecida como pianica.
Ótima música...
E se o assunto é listas, essa estaria na da Marta também. Bossa gringa é ótima! Eles têm aquele charminho de quem não vai conseguir sambar nunca e muito menos sacar perfeitamente a sincopada da gente.
Devo observar que adoro samba.
Por isso a pianica que, inclusive, é o instrumento que a Ana Rachel sempre quis.
Ó:
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Três 5+
1. Fragmentos de um Discurso Amoroso :: Roland Barthes
2. Extremamnete Alto e Incrivelmente Perto :: Johnatan Safran Foer
3. A Obscena Senhora D :: Hilda Hilst
4. Ensaio Sobre a Cegueira :: José Saramago
5. Poesia Reunida :: Adélia Prado
5.1. e 5.2. (compilações de) Crônicas e Cartas do Caio Fernando Abreu e da Clarice Lispector.
Músicas ruins que eu gosto
(gosto mesmo, de cantar com cabeça encostada no banco do carro, não de achar engraçada)
1. Lentinhas da Toni Braxton
2. Legião Urbana "cabeça" (prontofalei)
3. Corazón Partío :: Alejandro Sanz
4. I Wanna Know What Love Is :: Foreigner
5. Faz tempo :: Ivete Sangalo
Pintores
1. Gustav Klimt
2. Vincent Van Gogh
3. Ernst Ludwig Kirchner
4. Joan Miró
5. Fernando Botero
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
sábado, 3 de novembro de 2007
Música para...
Esse clipe é muito lindinho!! Bem no clima da música. Não dá para não sorrir.
Aproveito para deixar minha lista de “música para ouvir na estrada, com a cabeça para fora da janela do carro, em dia de chuva fininha”. Não há uma ordem de preferência, apenas indico 5 músicas ótimas para tal cena:
1- First Day of my Life – Bright Eyes
2- Princesa – Ludov (é bom demais gritar “mas hááááááááááááá...”)
3- Forever Lost – The Magic Numbers
4- Just a Ride – Jem
5- Everything will Flow - Suede
=)
Pìanices
Depois de um final de semana delicious, hoje ainda é sábado. Acordamos, eu e Rafa, aqui, na casa dela, e fomos lanchadas e descabeladas pianar. Aprendi a tocar cinco plinplinzices da música e o resultado taquimbaixo!
A Loteria de Babilônia - Jorge Luis Borges
Devo essa variedade quase atroz a uma instituição que outras repúblicas desconhecem ou que nelas trabalha de forma imperfeita e secreta: a loteria. Não indaguei a sua história; sei que os magos não conseguem por-se de acordo; sei dos seus poderosos propósitos o que pode saber da Lua o homem não versado em astrologia. Sou de um país vertiginoso onde a loteria é a parte principal da realidade: até o dia de hoje, pensei tão pouco nela como na conduta dos deuses indecifráveis ou do meu coração. Agora longe da Babilônia e dos seus estimados costumes, penso com certo espanto na loteria e nas conjecturas blasfemas que ao crepúsculo murmuram os homens velados.
Meu pai contava que antigamente — questão de séculos, de anos? — a loteria na Babilônia era um jogo de caráter plebeu. Referia (ignoro se com verdade) que os barbeiros trocavam por moedas de cobre, retângulos de osso ou de pergaminho adornados de símbolos. Em pleno dia verificava-se um sorteio: os contemplados recebiam, sem outra confirmação da sorte, moedas cunhadas de prata. O procedimento era elementar, como os senhores vêem.
Naturalmente, essas "loterias" fracassaram. A sua virtude moral era nula. Não se dirigiam a todas as faculdades do homem: unicamente à sua esperança. Diante da indiferença pública, os mercadores que fundaram essas loterias venais começaram a perder dinheiro. Alguém esboçou uma reforma: a intercalação de alguns números adversos no censo dos números favoráveis. Mediante essa reforma, os compradores de retângulos numerados expunham-se ao duplo risco de ganhar uma soma e de pagar uma multa, às vezes vultosa. Esse leve perigo (em cada trinta números favoráveis havia um número aziago) despertou, como é natural, o interesse do público. Os babilônios entregaram-se ao jogo. O que não adquiria sortes era considerado um pusilânime, um apoucado. Com o tempo esse desdém justificado duplicou-se. Eram desprezados aqueles que não jogavam, mas também o eram os que perdiam e abonavam a multa. A Companhia (assim começou então a ser chamada) teve que velar pelos ganhadores, que não podiam cobrar os prêmios se nas caixas faltasse a importância quase total das multas. Propôs uma ação judicial contra os perdedores: o juiz condenou-os a pagar a multa original e as custas, ou a uns dias de prisão. Todos optaram pelo cárcere, para defraudar a Companhia. Dessa bravata de uns poucos nasce todo o poder da Companhia: o seu valor eclesiástico, metafísico.
Pouco depois, as informações dos sorteios omitiram as referências de multas e limitaram-se a publicar os dias de prisão que designava cada número adverso. Esse laconismo, quase inadvertido a seu tempo, foi de capital importância. Foi o primeiro aparecimento, na loteria, de elementos não pecuniários. O êxito foi grande. Instada pelos jogadores, a Companhia viu-se obrigada a aumentar os números adversos.
Ninguém ignora que o povo da Babilônia é devotíssimo à lógica, e ainda à simetria. Era incoerente que se computassem os números ditosos em moedas redondas e os infaustos em dias e noites de cárcere. Alguns moralistas raciocinaram que a posse das moedas não determina sempre a felicidade e que outras formas de ventura são talvez mais diretas.
Inquietações diversas propagavam-se nos bairros desfavorecidos. Os membros do colégio sacerdotal multiplicavam as apostas e gozavam de todas as vicissitudes do terror e da esperança; os pobres (com inveja razoável ou inevitável) sabiam-se excluídos desse vaivém, notoriamente delicioso. O justo desejo de que todos, pobres e ricos, participassem por igual na loteria, inspirou uma indignada agitação, cuja memória os anos não apagaram. Alguns obstinados não compreenderam (ou simularam não compreender) que se tratava de uma ordem nova, de uma necessária etapa histórica... Um escravo roubou um bilhete carmesim, que no sorteio lhe deu direito a que lhe queimassem a língua. O código capitulava essa mesma pena para o que roubava um bilhete. Alguns babilônios argumentavam que merecia o ferro candente, na sua qualidade de ladrão; outros, magnânimos, que se devia condená-lo ao carrasco porque assim o havia determinado o azar... Houve distúrbios, houve efusões lamentáveis de sangue; mas a gente babilônica finalmente impôs a sua vontade, contra a oposição dos ricos. O povo conseguiu plenamente os seus generosos fins. Em primeiro lugar, conseguiu que a Companhia aceitasse a soma do poder público. (Essa unificação era indispensável, dada a vastidão e complexidade das novas operações.) Em segunda etapa, conseguiu que a loteria fosse secreta, gratuita e geral. Ficou abolida a venda mercenária de sortes. Iniciado nos mistérios de Bel, todo homem livre participava automaticamente dos sorteios sagrados, que se efetuavam nos labirintos do deus de sessenta em sessenta noites e que demarcavam o seu destino até o próximo exercício. As conseqüências eram incalculáveis. Uma jogada feliz podia motivar-lhe a elevação ao concílio dos magos ou a detenção de um inimigo (conhecido ou íntimo), ou a encontrar, nas pacíficas trevas do quarto, a mulher que começava a inquietá-lo ou que não esperava rever; uma jogada adversa: a mutilação, a infâmia, a morte. Às vezes, um fato apenas — o vil assassinato de C, a apoteose misteriosa de B — era a solução genial de trinta ou quarenta sorteios. Combinar as jogadas era difícil; mas convém lembrar que os indivíduos da Companhia eram (e são) todo-poderosos e astutos. Em muitos casos, teria diminuído a sua virtude o conhecimento de que certas felicidades eram simples fábrica do acaso; para frustrar esse inconveniente, os agentes da Companhia usavam das sugestões e da magia. Os seus passos e os seus manejos eram secretos. Para indagar as íntimas esperanças e os íntimos terrores de cada um, dispunham de astrólogos e de espiões. Havia certos leões de pedra, havia uma latrina sagrada chamada Qaphqa, havia algumas fendas no poeirento aqueduto que, conforme a opinião geral, levavam à Companhia; as pessoas malignas ou benévolas depositavam delações nesses sítios. Um arquivo alfabético recolhia essas notícias de veracidade variável.
Por incrível que pareça, não faltavam murmúrios. A Companhia, com a sua habitual discrição, não replicou diretamente. Preferiu rabiscar nos escombros de uma fábrica de máscaras um argumento breve, que agora figura nas escrituras sagradas. Essa peça doutrinal observava que a loteria é uma interpolação da casualidade na ordem do mundo e que aceitar erros não é contradizer o acaso: é confirmá-lo. Salientava, da mesma maneira, que esses leões e esse recipiente sagrado, ainda que não desautorizados pela Companhia (que não renunciava ao direito de os consultar), funcionavam sem garantia oficial.
Essa declaração apaziguou os desassossegos públicos. Também produziu outros efeitos, talvez não previstos pelo autor. Modificou profundamente o espírito e as operações da Companhia. Pouco tempo me resta; avisam-nos que o navio está para zarpar; mas tratarei de os explicar.
Por inverossímil que seja, ninguém tentara até então uma teoria geral dos jogos. O babilônio é pouco especulativo. Acata os ditames do acaso, entrega-lhes a vida, a esperança, o terror pânico, mas não lhe ocorre investigar as suas leis labirínticas, nem as esferas giratórias que o revelam. Não obstante, a declaração oficiosa que mencionei instigou muitas discussões de caráter jurídico-matemático. De uma delas nasceu a seguinte conjectura: Se a loteria é uma intensificação do acaso, uma periódica infusão do caos no cosmos, não conviria que a casualidade interviesse em todas as fases do sorteio e não apenas numa? Não é irrisório que o acaso dite a morte de alguém e que as circunstâncias dessa morte — a reserva, a publicidade, o prazo de uma hora ou de um século — não estejam subordinadas ao acaso? Esses escrúpulo tão justos provocaram, por fim, uma reforma considerável, cujas complexidades (agravadas por um exercício de séculos) só as entendem alguns especialistas, mas que intentarei resumir, embora de modo simbólico.
Imaginemos um primeiro sorteio que decrete a morte de um homem. Para o seu cumprimento procede-se a um outro sorteio, que propõe (digamos) nove executores possíveis. Desses executores quatro podem iniciar um terceiro sorteio que dirá o nome do carrasco, dois podem substituir a ordem infeliz por uma ordem ditosa (o encontro de um tesouro, digamos), outro exacerbará (isto é, a tornará infame ou a enriquecerá de torturas), outros podem negar-se a cumpri-la... Tal é o esquema simbólico. Na realidade o número de sorteios é infinito. Nenhuma decisão é final, todas se ramificam noutras. Os ignorantes supõem que infinitos sorteios requerem um tempo infinito; em verdade, basta que o tempo seja infinitamente subdivisível, como o ensina a famosa parábola do Certame com a Tartaruga. Essa infinitude condiz admiravelmente com os sinuosos números do Acaso e com o Arquétipo Celestial da Loteria, que os platônicos adoram... Um eco disforme dos nossos ritos parece ter reboado no Tibre: Ello Lampridio, na Vida de Antonino Heliogábalo, refere que este imperador escrevia em conchas as sortes que destinava aos convidados, de forma que um recebia dez libras de ouro, e outro, dez moscas, dez leirões, dez ursos. É lícito lembrar que Heliogábalo foi educado na Ásia Menor, entre os sacerdotes do deus epônimo.
Também há sorteios impessoais, de objetivo indefinido; um ordena que se lance às águas do Eufrates uma safira de Taprobana; outro, que do alto de uma torre se solte um pássaro, outro, que secularmente se retire (ou se acrescente) um grão de areia aos inumeráveis que há na praia. As conseqüências são, às vezes, terríveis.
Sob o influxo benfeitor da Companhia, os nossos costumes estão saturados de acaso. O comprador de uma dúzia de ânforas de vinho damasceno não estranhará se uma delas contiver um talismã ou uma víbora; o escrivão que redige um contrato não deixa quase nunca de introduzir algum dado errôneo; eu próprio, neste relato apressado, falseei certo esplendor, certa atrocidade. Talvez, também, uma misteriosa monotonia... Os nossos historiadores, que são os mais perspicazes da orbe, inventaram um método para corrigir o acaso; é de notar que as operações desse método são (em geral) fidedignas; embora, naturalmente, não se divulguem sem alguma dose de engano. Além disso, nada tão contaminado de ficção como a história da Companhia... Um documento paleográfico, exumado num templo, pode ser obra de um sorteio de ontem ou de um sorteio secular. Não se publica um livro sem qualquer divergência em cada um dos exemplares. Os escribas prestam juramento secreto de omitir, de intercalar, de alterar. Também se exerce a mentira indireta.
A Companhia, com modéstia divina, evita toda publicidade. Os seus agentes, como é óbvio, são secretos; as ordens que distribui continuamente (talvez incessantemente) não diferem das que prodigalizam os impostores. Para mais, quem poderá gabar-se de ser um simples impostor? O bêbado que improvisa um mandato absurdo, o sonhador que desperta de súbito e estrangula a mulher a seu lado, não executam, porventura, uma secreta decisão da Companhia? Esse funcionamento silencioso, comparável ao de Deus, provoca toda espécie de conjecturas. Uma insinua abominavelmente que há séculos não existe a Companhia e que a sacra desordem das nossas vidas é puramente hereditária, tradicional; outra julga-a eterna e ensina que perdurará até a última noite, quando o último deus aniquilar o mundo. Outra afiança que a Companhia é onipotente, mas que influi somente em coisas minúsculas: no grito de um pássaro, nos matizes da ferrugem e do pó, nos entressonhos da madrugada. Outra, por boca de heresiarcas mascarados, que nunca existiu nem existirá. Outra, não menos vil, argumenta que é indiferente afirmar ou negar a realidade da tenebrosa corporação, porque a Babilônia não é outra coisa senão um infinito jogo de acasos.
Jorge Luis Borges nasceu em 1899 na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina. O Projeto Releituras presta uma singela homenagem a esse que foi um dos maiores escritores latino-americanos, que estaria completando 100 anos de idade. Borges faleceu em Genebra, no ano de 1986.
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Esse é um dos meus contos preferidos do Ficções. Leio ele muitas vezes por ano. Eu prefiro, mesmo, em espanhol. Essa q eu postei saiu do
www.releituras.com, site legal, mas com os mesmos erros de tradução e sutilezas perdidas...
O poder do acaso sempre me fez pensar muito. Esse conto é o acaso exponencial, o acaso de agora, de nossas "escolhas", que, no final das contas, não passam de uma tentativa interminável de combinar todos os acasos em nosso favor.
Quem puder lê-lo em espanhol, recomendo.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Finados Pop
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Dia de Finados #2
Eu passava noites e madrugadas inteiras conectada naquele negócio. Era conexão discada, né. Então eu só entrava depois da meia noite, porque era mais barato. E só saia meia hora antes da minha mãe acordar, senão ela dava chilique. E hoje eu penso: com razão.
Não sei se era a rapidez do chat (pra época), se era a mística tela preta, se era a variedade infinda de canais, ou a sensação de ser parte de algo muito complicado, moderno e excitante. Coisa que só o meu cérebro de 16 anos conseguia desmembrar e configurar sem ao menos entender.
Só sei que muita coisa rolou naquele irc. Conheci algumas de minhas melhores amigas no canal #lesbians (não era isso?), que são inclusive minhas companheiras de blog. Nossa amizade cresceu através de irc, icq, e-mail, orkut, messenger, youtube, blog e se consolidou através de meios mais convencionais como telefone, cara-a-cara, rodoviária, apartamento lotado, paixões, albergue, casa infestada de baratas, beijo na cabeça, posto 9, Belle and Sebastian, expulsão em pleno reveillon, Bunker, porres, desconfortos e saudade.
Portishead_girl, meu primeiro caso lésbico, conheci por lá. Ela foi também minha primeira decepção IRCquiana: descobri que ela se passava por mim em outros canais.
Papeei muito com a Angelina_Jolie, uma carioca muito mais velha que eu, que me mandou uma música linda. Toda vez que ouço, ainda lembro dela, apesar de não gostar mais tanto da música. Angelina também me mandou umas fotos e muitos textos bem excitantes. Mais tarde as boas línguas me contaram que as fotos eram alteradas e que ela era estranha, magrela com barriga de piaba de córrego e dentuça. É, naquela época eu não podia exigir muito além do externo.
Foi no irc também que descobri quem era Nina Simone, ou nina_simone. Ela também frequentava o #lesbians.
Meu primeiro e único banho de creme sincronizado, simultâneo e virtual, também foi através daquela simples interface que não estimulava nem um pouco a visão.
Hoje eu dei um google, um youtube e um orkut no irc, e descobri que tem muita gente que ainda o usa. Tem gente até pedindo a volta da sua popularidade! Não, obrigada. Hoje tem skype, muito mais coloridinho. E, além do mais, já fiz a minha cota de amizades virtuais.
Dia de Finados #1
.sobre ontem.
trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. e até que ponto posso controlá-los. há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. e muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. estou num impasse. quero melhorar e não sei como. sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. e, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. e mais: nem sempre meus impulsos são de boa origem. vêm, por exemplo, da cólera. essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são cólera sagrada. às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. às vezes restringir o impulso me anula e me deprime; às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna.'
(continua, a crônica se chama 'o impulso' e é da clarice lispector)