Perdi muito a capacidade de me largar sem aditivos. E, como tudo, isso é bom e ruim. Não há ação para qual eu não pense em, sei lá, 3 conseqüências prováveis, 3 possíveis, 3 que certamente não acontecerão etc. Ok, tem a ver com o mba que eu faço, tem a ver com a empresa em que trabalho, mas tem muito a ver com uma escolha que fiz "a long long time ago"...
Acho que eu sempre me senti um tanto profunda demais, no sentido "areio-movediço" de ser. Sempre me pareceu facílimo afundar, e, apesar de eu me achar até bastante esperta por sempre voltar à superfície – ainda que com seqüelas –, isso começou a me parecer um perigo chato de tão repetitivo. Eu não ganharia um prêmio por ser a "deprimida iguaçuana que vai mais fundo e volta" ou a que mais "não se mata apesar da dor", o que ia acontecer é que, mesmo que eu conseguisse escrever um livro lindo de tão honesto sobre, nada disso teria mais qualquer importância pra mim pela quantidade de dor na qual eu teria de ter chafurdado com tão pouca noção de como sair dela depois.
Daí fui me jogando no mundo assertivo-em-seqüência-lógica em que estou, ainda sem tanta felicidade, mas com menos dor, afinal são tantas as obrigações concretas e corpóreas que eu esqueço um pouco de pensar em "qual seria a essência da vida e lero lero lero"...
Acho que o capitalismo tem sua utilidade ao deprimido... Afinal, é uma competição tão acirrada, tão cega, tão boçal, que quando você ganha alguma coisa parece que você realmente ganhou alguma coisa! Lógico que isso passa, mas dá pra entrar um tempo na idéia de que é um jogo quando você começa a ganhar. Você experimenta um poder, sem nenhuma dúvida irreal, que te faz entender um pouco mais certos filmes e livros, as novelas, os comerciais, as lutas das grandes marcas etc. Acho que você entende um pouco mais "o mundo" e se sente menos alienígena por um tempo. Caso não houvesse essa competição, essa louvada brincadeirona homicida, talvez a vida ficasse muito real e poucos passariam dos 16...
Em suma: é difícil à beça pra mim atualmente e por isso apareço pouco, mas gosto muito de ter esse blog para treinar um pouco minha antiga arte da apnéia em fluido não-newtoniano.
Mergulho no fluido com bóias segurando na escada:
Mergulho no fluido de cabeça sem previsão de retorno:
1 -
2 - Donovan - Hurdy Gurdy Man (sem embed)
http://www.youtube.com/watch?v=b-5WVvWHDyE&feature=related
sábado, 23 de fevereiro de 2008
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12 comentários:
hum...
Cá estou eu, pensando, pensando, pensando...
Essa coisa de competição é estressante. Pra quê? Pra que ganhar? Ganhamos o quê? Ok... e depois?
Essa coisa de ir profundamente em tudo, chegar ao fundo e depois subir, é um vício torturante. E cansa. Não sei se precisamos disso (bom, falo pq sou assim).
Ainda não vi os vídeos por causa da conexão...
não vi os videos por causa da conexão idem. e afundar/desfundar/etc, quanto mais eu penso nisso mais me sinto um boi (não disse vaca pq vaca é feio) (me lembrou o filme do tom zé, arroto é feio, virou assopro). mas saca boi? pé no chão, tem capim tá bom? tá no pasto e tá feliz, vai pro abatedouro e nem esperneia tanto. num sei, me sinto boi. não sirvo pra filósofa não, acho que questiono de menos e sou otimista demais. e ah, lembrei, conhece uma música do bright eyes, at the bottom of everything? tem a ver. e termina assim: "I’m happy just because I found out I am really no one". isso.
Juliana, vc é matemática, não vale! :P Eu fico feliz quando você me ouve e tenta desenhar um gráfico colorido. E desculpe tê-la feito se sentir um boi, apesar de isso parecer bom.
Marta, acho que não preciso disso sempre MESMO, acho inclusive que isso me mataria em poucos dias. Mas se eu não der umas voltas pelo wild side eu acho que eu viro pedra, porta, essas coisas que sequer alegram a vida enquanto churrasco...
pensar nessas coisas deixa a gente menos burra, mas quanto menor a freqüência do pensamento, maior a alegria de ser boi. porque, convenhamos, do que adianta? eu sempre penso na melinda. e na melinda.
quem é melinda?
eu alegro churrasco! que alegria! e olha que nem gosto assim de churrasco, se eu fosse galinha pelo menos meu coração era bacana.
eu me sinto boi com freqüência, e me sinto cavalo também. cavalo é melhor, gosto de me sentir cavalo. também é bicho, também obedece, mas pelo menos cavalo corre.
ih, agora que vi que tem cavalo na minha foto. e que cavalão, rapaz! enourme! mas sem duplo sentido, que o post é sério.
Recuso-me até o fim a me sentir um boi.
Sério. Prefiro as minhas profundezas, os meus questionamentos, as minhas estranhezas. POor isso tenho tanta dor de cabeça. Enfim... Um dia desapego de tudo isso.
Não somos ninguém mesmo. Mas eu sou uma ninguém teimosa e não vou pro matadouro só pq tá todo mundo indo pra lá. rss...
ps: adoro essas discussões!!! =)
Hmmmm... Se sentir um bicho tem pra mim a ver com ser vivo. Uma das coisas mais legais das línguas latinas é a diferença entre ser e estar. Estar vivo é a preocupação com o futuro (na forma da morte), ser vivo é o agora. Não sei se ficou claro, mas tudo que está pode deixar de estar, porque se tratam de estados. Se vc é, pode deixar de ser, mas não deixar de ter sido. Fez sentido? É a diferença entre concepções de tempo, acho. Li algo assim em um Borges da vida.
Um boi (ou um cavalo) é. Um boi é vivo, um boi é no pasto, um boi é no matadouro, um boi é morto. Ele nunca esteve nada porque o agora é o que existe. Claro que isso, levado a extremos, manda qqer um pro abatedouro. Se fizer disso religião a gente se fode. Mas, de vez em quando, relaxar e pastar sendo um boi, isso é bom. Se sentir, ser parte da manada de vez em quando, isso é bom.
Múúúúúúú...
Juliana, meu terapeuta vive me dizendo isso.
huahuahuahua!!!
aaaaaaahhhhhh!!!
Eu ia colocar um vídeo da Beth, justamente desse show! Na verdade é do Portishead, né?
Ela cantando essas musicas com esse jeitinho e com cigarro na mão é qualquer coisa!!!
Talvez seja porque eu acordei às 5 da manhã de ressaca e não tenha conseguido voltar a dormir, mas...
Gente, olha, eu achei essa conversa interessantíssima! E o post da Cindy fundamental nessa manhã! hehehe (P.S.: não sei pq, mas eu não tenho depressão)
Um dia vou fazer um post sobre ser boi, mas usando a visão marxista. Por favor, não tenham preconceito... O Marx pensou coisas muito próximas ao que vocês tão dizendo, só que escreveu mais difícil e tentou achar uma solução.
Talvez esse dualismo alienação capitalista x depressão existencialista (?) tenha sido criado... Sei lá...
E o que a Beth Gibbons tem a ver com isso? Estou confusa... :-|
Tb acho esse papo interessante, Geisy!
E trate de fazer o post sobre o boi marxista. Quero saber sobre isso e fazer minha análise.
rsss... Beth está num dos clipes postados por Cindy.
=)
ps: Marx tentou achar solução? hum... talvez tenha sido esse o problema...
Uma coisa é certa...
...o boi marxista será doado ao Fome Zero.
Cara, o Marx é gente boa... O problema é que ninguém consegue bater um papo com ele...
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