Esse texto foi postado no blog de uma amiga. É um assunto polêmico, como não poderia deixar de ser, já que se trata de homossexualidade. A intolerância e o preconceito das pessoas com relação ao tema me surpreendem. Nem falo da conversa entre os dois homens do relato, mas principalmente do comentário postado no blog, que confunde liberdade de expressão com "sou livre e posso fazer e falar o que eu quiser". Gostaria muito da opinião de vocês sobre isso:
Este é um depoimento real.
Peguei um ônibus vazio na noite de quinta-feira no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, rumo a Ipanema.
Na praia de Copacabana subiu outro passageiro. O trajeto foi cumprido apenas por nós dois, mais o motorista, durante todo o tempo.
Assim como havia perguntado para mim, o motorista perguntou para o outro passageiro para onde ele iria. Ele afirmou ser cambista e estar indo trabalhar em frente a uma casa de shows. Não sei exatamente como, mas o assunto “evoluiu” para Rio de Janeiro e “viados”.
- Tá cheio disso aí agora, né, irmão? Pouca vergonha cada vez mais escancarada, tudo passando Aids, tuberculose - disse o passageiro.
- Pois é, eu sou da baixada e lá não tinha isso não. Agora tem, ainda mais no Carnaval - respondeu o motorista.
- Tem em todo lugar. Viado e sapatão. Bando de vagabundo. Eu tomo minhas cachaça e como minhas puta; minha vida é assim, não é que nem a desses aí no meio da rua não. Não incomodo ninguém.
- Isso é que tá certo.
Foram 20 longuíssimos minutos, concentrada em não deixar o sangue subir e torcendo para não ser abordada.
Ao fim da jornada, pedi para saltar na Farme de Amoedo, um reconhecido point gay do Rio de Janeiro. O passageiro então dirigiu mais um comentário ao motorista:
- Esse lugar aí que você tá parando é onde eles se reúnem, bando de vagabundo, tudo sem vergonha se pegando na rua.
Já na escada para saltar, não consegui me conter:
- Nós somos gente boa, tá, não é assim não - falei, com a voz trêmula.
- Não, filha, não tenho nada contra não, deixa vagabundo fazer o que quiser.
Fora do ônibus, as mãos suando frio e o coração acelerado. Sei que podia ter falado uma centena de coisas melhores do que “somos gente boa”, mas foi o que a tensão e o medo me permitiram naquele momento.
Sem leis do nosso lado, um episódio assim é sinônimo de desamparo e absoluta apreensão. Senti, pela primeira vez, um medo real de ser fisicamente agredida por conseqüência da minha orientação sexual. E, honestamente, o pavor maior é pensar em pessoas assim soltas por aí, continuando a propagar suas opiniões absurdas e alimentando preconceito, ódio e intolerância, sem qualquer instrumento legal que possa ao menos refreá-las. Cada palavra dita me atingiu como um soco, embora não diretamente direcionada a mim. E, obrigada a manter silêncio, acabei também me agredindo. Caso houvesse entrado em discussão, sabe-se lá o que poderia ter me acontecido. A única certeza é que, sem leis, a justiça jamais teria sido feita.
Peguei um ônibus vazio na noite de quinta-feira no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, rumo a Ipanema.
Na praia de Copacabana subiu outro passageiro. O trajeto foi cumprido apenas por nós dois, mais o motorista, durante todo o tempo.
Assim como havia perguntado para mim, o motorista perguntou para o outro passageiro para onde ele iria. Ele afirmou ser cambista e estar indo trabalhar em frente a uma casa de shows. Não sei exatamente como, mas o assunto “evoluiu” para Rio de Janeiro e “viados”.
- Tá cheio disso aí agora, né, irmão? Pouca vergonha cada vez mais escancarada, tudo passando Aids, tuberculose - disse o passageiro.
- Pois é, eu sou da baixada e lá não tinha isso não. Agora tem, ainda mais no Carnaval - respondeu o motorista.
- Tem em todo lugar. Viado e sapatão. Bando de vagabundo. Eu tomo minhas cachaça e como minhas puta; minha vida é assim, não é que nem a desses aí no meio da rua não. Não incomodo ninguém.
- Isso é que tá certo.
Foram 20 longuíssimos minutos, concentrada em não deixar o sangue subir e torcendo para não ser abordada.
Ao fim da jornada, pedi para saltar na Farme de Amoedo, um reconhecido point gay do Rio de Janeiro. O passageiro então dirigiu mais um comentário ao motorista:
- Esse lugar aí que você tá parando é onde eles se reúnem, bando de vagabundo, tudo sem vergonha se pegando na rua.
Já na escada para saltar, não consegui me conter:
- Nós somos gente boa, tá, não é assim não - falei, com a voz trêmula.
- Não, filha, não tenho nada contra não, deixa vagabundo fazer o que quiser.
Fora do ônibus, as mãos suando frio e o coração acelerado. Sei que podia ter falado uma centena de coisas melhores do que “somos gente boa”, mas foi o que a tensão e o medo me permitiram naquele momento.
Sem leis do nosso lado, um episódio assim é sinônimo de desamparo e absoluta apreensão. Senti, pela primeira vez, um medo real de ser fisicamente agredida por conseqüência da minha orientação sexual. E, honestamente, o pavor maior é pensar em pessoas assim soltas por aí, continuando a propagar suas opiniões absurdas e alimentando preconceito, ódio e intolerância, sem qualquer instrumento legal que possa ao menos refreá-las. Cada palavra dita me atingiu como um soco, embora não diretamente direcionada a mim. E, obrigada a manter silêncio, acabei também me agredindo. Caso houvesse entrado em discussão, sabe-se lá o que poderia ter me acontecido. A única certeza é que, sem leis, a justiça jamais teria sido feita.
10 comentários:
depois escrevo um comentário maior. mas, apesar de conhecer pessoas que apanharam na rua por serem gays, não tenho medo algum de ser agredida. nenhum. eu me acho tão incrivelmente do bem, que acho que não vai acontecer, porque vou olhar com cara de 'meu deus, tá doido?'.
olha juli, posso dizer que eu não sou gay mas tenho certo medo desse tipo de coisa sim. enfim...
juliana, o que eu disse é que sou misteriosamente descrente da maldade. algo do tipo 'comigo não vai acontecer'.
se bem que a única vez que alguém veio muito agressivamente falar que eu era 'sapatão, demônio, vai queimar no fogo do inferno', eu senti medo, porque era um desses mendigões de cabelão, que tem cara de maluco.
é. sei lá.
é...
na verdade nem chego a ter medo de ser agredida fisicamente pq acho que sairei do lugar antes que isso aconteça.
mas ser agredida verbalmente é muito ruim tb. fico triste a pensar pq as pessoas falam de mim com tanto ódio só por causa da minha sexualidade. não é justo. e tb nem é pelo "xingamento", pq já fui chamada de sapatão na rua e minha vontade é rir, pq sou mesmo, oras...rs... mas eu sinto que fazem isso com raiva e disso pra uma agressão física tipo tacar alguma coisa falta pouco, né?
é, eu sou descrente da maldade pela maldade, do "eu sou eu sou eu sou mau mau mesmo mau mau mau mesmo", mas tenho muito medo dessa gente que tem certeza. saca essa gente? que tem certeza que está certo, tem certeza do que faz, tem certeza do que é. isso me assusta, porque na certeza, se dá a certeza de que deus manda, ele te queima viva sim. se dá a certeza de que ele pode, ele te estupra sim. eu tenho medo de certezas.
marta, eu tbm fujo que sou cagona pra caceta. mas e se nego corre atrás? sei lá, acho que ando ficando meio paranóica. p.ex., sempre me assusto com bicicleta. se for um homem jovem numa bicicleta eu já fico tensa. mulher não, que mulher não assalta...
rssss... calma... tb se formos viver assim não sairemos de casa.
Eu fujo pq não gosto de confusão. É claro que eu não quero apanhar, mas na verdade tenho medo de perder a noção e revidar uma agressão. Detesto violência.
ps: mulher não assalta?
Nunca fui assaltada por mulher, você foi? Se ninguém aqui foi assaltada por mulher, isso prova que mulher não assalta. Pelo menos é assim que os cientistas sociais "provam" coisas...
É tão chato fazer piada de nerd matemátco e ninguém entnder... :_( Oh, como sofro.
:P
huahuahuahhuahua!!!
eu já tive um óculos roubado por uma senhora desdentada de 1,5m no banheiro do shopping botafogo. serve?
Minha câmera já foi quase roubada por uma cigana, vale?
ontem uma amiga contou que uma velha roubou 5 mil de um amigo dela. mulheres são, geralmente, golpistas.
minha mãe já foi assaltada por uma mulher na saída do banco.
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