terça-feira, 15 de julho de 2008

O amado solo da Pátria de novo me enche de alegria e de sofrimento.

Agora todas as manhãs compareço nas alturas do istmo de Corinto e a minha alma, tal como abelha entre flores, voa frequentemente num vaivém entre os mares, os que à direita e à esquerda refrescam o sopé dos meus montes ardentes.

Especialmente um dos dois golfos dever-me-ia ter alegrado, se eu tivesse estado aqui um milênio antes.

Como um semideus vitorioso flutuava entre a magnífica selva das serras do Hélicon e do Parnaso, onde o raiar da aurora brinca em torno de uma centena de cumes nevados e por entre as planícies paradisíacas de Sícion avança o golfo cintilante em direção à cidade da alegria, a juvenil Corinto, depondo aos pés da amada as riquezas capturadas em todas as zonas.

Mas de que me serve tudo isso? O grito do chacal, que canta o seu hino fúnebre selvagem sobre os escombros da Antigüidade, arranca-me aos meus sonhos com sobressalto.

Ditoso o homem a quem uma Pátria florescente alegra e fortalece o coração! Quanto a mim, é como se fosse atirado ao pântano, como se fechassem a tampa do caixão sobre mim, de cada vez que alguém me recorda a minha Pátria e, quando alguém me chama grego, é como se me apertassem a garganta com a coleira de um cão.

E olha, meu caro Belarmino! Quando por vezes me escaparam algumas destas expressões e também quando, com a fúria, me vinham lágrimas aos olhos, logo apareciam os sábios senhores que entre vós, alemães, tanto gostam de se fazer ouvir, os desgraçados para quem o sofrimento de uma alma não é senão pretexto para sentenças e, fazendo-se passar por bons, diziam-me condescendentemente: não te lamentes, age!

Oh, oxalá nunca tivesse agido! Como seria mais rico em esperança!

Sim, esquece que há pessoas, ó meu coração miserável, atacado, de mil modos ofendido! E regressa ao teu ponto de partida, aos braços da Natureza imutável, serena e bela!
(Friedrich Hölderlin - Hipérion ou O Eremita da Grécia)

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