domingo, 22 de junho de 2008

Relato sobre a ignorância e a solidão ligada ao gene

É muito estranho imaginar uma ilha da qual não se consegue ver todos os lados, mas é assim que sinto as pessoas. Há pontes diversas, mas há infinitos precipícios também. Eu não tenho controle sobre como as pessoas chegam até mim e acho que isso é ignorância emocional. Eu só sei que quem entra não sai nunca mais, mesmo quando tentam me matar. O elo fica estabelecido, pode até virar via interditada, mas a ponte está construída e não vai ser implodida.

Isso tudo porque hoje vi, abracei forte e beijei meu pai. Esse cara é o maior problema que tenho e meu mais chocante espelho. Como somos parecidos... Eu e ele somos duas ilhas burras, eu tô ainda me esforçando como uma égua para tentar me fazer mais penetrável (entendam como quiserem, hahah), mas ele eu acho que sequer percebe que nós somos profundamente pai e filha.

9 comentários:

ju coniglio disse...

cinduca, fiquei pensando no que te escrever aqui. pensei que ninguém tem controle sobre quem entra e quem sai, de um certo modo sai, pelo menos se afasta, o caminho cria mato fica difícil de transitar. tanta gente que eu queria mais perto... não dá pra ter controle.
pensei também que os pais não tem assim muita noção do quanto nós tomamos pedaços deles. pro bem ou pro mal, nós somos a criatura que é feita de pedaços do próprio criador. meus pais não percebem e se maravilham cada vez que notam alguma semelhança entre nós, eu e eles.
foram essas as duas coisas que pensei com seu texto.

Anônimo disse...

o que escreveu é a mais profunda verdade!

AR disse...

Percebe sim. Eles sempre sabem.

Pai e (f)ilha.

marta disse...

é... eu ia escrever algo que tem mais ou menos a ver com o que vc escreveu (com uma sensibilidade maravilhosa), cindy.

são forças que agem sobre agente e não conseguimos muito escapar...

quando deixamos alguém entrar, estabelecemos essa ponte e aí já era...

mas sabe o que é pior? quando as duas pessoas sabem o que acontece, sabem da ponte, sabem da ligação e estão tão próximas que parecem ser a mesma pessoa, mas........ mas quando vão ver, estão separadas por um abismo infinito e, por isso, extremamente longe. nada é pior do que isso.

Unknown disse...

speachless.

Juliana disse...

seria mais bonito falar 'claro que ele tem essa noção'. mas eu sei que não tem. e isso dói daqui até aqui, porque aqui, em outra instância, também é assim.
eu tenho vontade de chacoalhar o mundo. eu queria sentir só coisas boas. e queria que só sentissem coisas boas por mim.
TSC.
tô depressiva cafona.

Juliana disse...

associei direto a esse post tb:

"O berço balança pairando sobre um abismo, e o senso comum nos diz que nossa experiência não passa de uma breve fenda de luz entre duas eternidades de trevas. Embora as duas sejam gêmeas idênticas, o homem, em geral, encara com mais calma o abismo pré-natal do que aquele a que se destina (a cerca de quatro mil e quinhentas pulsações cardíacas por hora). Conheço, porém, um jovem cronófobo que sentiu algo parecido com o pânico ao ver pela primeira vez filmes domésticos que haviam sido feitos algumas semanas antes do seu nascimento. Viu um mundo que praticamente não apresentava qualquer diferença – a mesma casa, as mesmas pessoas -, mas então percebeu que era um mundo onde ele não existia, e que ninguém deplorava a sua ausência."

todoseles disse...

quem escreveu isso, ju?

Juliana disse...

foi o nabokov. eu postei no inicício do ano. eu li na época da oficina de contadores de história e desde lá vc gosta. mas não lembra que gosta. :)