quinta-feira, 3 de abril de 2008

Crítica Gota D'água

Assisti hoje à reestréia de Gota D'água, no Teatro João Caetano, após sua temporada de sucesso no Teatro Glória. Não gostei tanto, não foi um espetáculo arrebatador. Aliás, achei regular.

O diretor fez dele um musical, e eu não entendo Gota D'água como um musical, mas como uma peça que possui música, música que amarra a trama e que funciona como coro mais que o coro de vizinhos, inclusive mais que CORina. O diretor se preocupou mais com a preparação musical e com as coreografias que com a dramaturgia em si.

Qd os atores cantavam, o nível do espetáculo subia absurdamente mas era só voltarem a interpretar que a peça parecia fruto de um processo inacabado. Os atores se movimentavam, na maioria das vezes, de forma não orgânica, algumas marcações eram superficiais e pareciam executadas apenas para encher a cena, como se enche lingüiça em prova para a qual não se estudou.

Do começo até a cena em que Joana jura se vingar de Jasão, o espetáculo se arrasta em um tom monótono e injustificável para as mais de três horas de espetáculo a que o público é submetido.

A iluminação desfilou tal qual a Beija-Flor, nada a reclamar, perfeição técnica, se é que vcs me entendem.

O cenário vazado mostrava os músicos, e estes tinham até fala e entravam em cena. Aliás, na cena em que Creonte avisa que vai abonar as dívidas dos moradores da vila, a carga dramática de alguns músicos era bem maior que a de alguns atores. Senti firmeza qd três músicos se abraçaram.

Além de permitir uma visão quase que constante dos músicos, o (bom uso do) cenário foi responsável por uma das cenas mais bonitas do espetáculo, na qual Jasão e Joana descem os degraus e o que foi pisado por eles se desfaz, em uma movimentação belíssima do coro de vizinhos. Outra cena em que o cenário foi o protagonista é no final do primeiro ato, na qual a parte do cenário, acima dos músicos é revelada e tem-se uma fotografia linda de Joana evocando seus santos.

Não houve intervenções relevantes do figurino, nem para o bem, nem para o mal. Apenas não entendi até agora o propósito de se colocar um vestido de boneca na noiva de Jasão; Era para demonstrar que a personagem era uma menininha? Gostei das echarpes feitas com calcinhas, original, no mínimo.

E juro que não é implicância mas tenho bronca de microfone de lapela (ou de testa, como está na moda). Os teatros atuais não são tão grandes como os de antigamente. Preparação vocal, para que te quero? Eu fumo, bebo gelado e saio sem cachecol porque minha praia é direção. Se fosse atriz, só comeria maçã-verde, tomaria chá de camomila e suaria horrores para o ar condicionado não sacanear minhas cordas vocais, além de ser um poço de antipatia, pois não gastaria minha voz cumprimentando ninguém. Com o microfone, não se pode brincar com os diversos níveis de som, de acordo com proximidade ou distanciamento de elenco. Quem está na parte alta do palco tem sua fala no mesmo volume de quem está na parte baixa. A voz dos atores se transforma em um desenho em preto-e-branco, unidimensional.

Assim como a iluminação, a interpretação dos atores foi um desfile técnico. A atriz principal, que interpretou Joana – personagem que mata a si e aos filhos para se vingar por Jasão tê-la abandonado por uma mulher mais jovem e rica – estava ora em um filme de faroeste, ora em uma animação da Disney. A voz que ela escolheu para os momentos de ira da personagem era idêntica à de Billy The Kid ao dizer “Prepare-se, você vai morrer”. Só faltou esporas e uma arma. Quando em desespero, ela gesticulava como a princesa Jasmine, cantando A whole new world no tapete mágico.

A peça não foi excelente mas teve momentos ótimos, como o flashback da visita de Jasão á casa de Joana, que, como disse anteriormente, foi um dos únicos momentos em que a peça teve alguma alteração de ritmo. A imagem da fumaça do charuto de Creonte envolvendo Jasão, na hora em que o então sambista passa a fazer parte dos negócios do sogro foi dignamente original. E a releitura das músicas na hora do casamento, cujo rejunte foi a “orquestração vocal” de Besame Mucho, deve ter arrancado um risinho fofo até do Chico Buarque.

Gota D’água choveu no molhado, mas o teatro contemporâneo possui uma fonte perpétua de novas idéias, não estamos em época de estiagem.

14 comentários:

Clarissa disse...

Vou fazer um comentário inútil, já que não faço parte da banda culta do blog e sequer sei que peça é essa, hehe.

Que paciência pra escrever sobre a peça! Nossa, meu comentário se resumiria, certamente, a três linhas, rs. Dá vontade de conferir o espetáculo só pela descrição minuciosa e crítica da coisa.

A propósito, dando prosseguimento ao movimento 'vamos conhecer os coleguinhas do blog', quem é vc, Madame Fatah? Amiga(o) de quem?

Beijinhos.

Madame Fatah disse...

Clara, eu acho que é um pouco de psicose ir a um espetáculo com papel e caneta e tomar nota de tudo! hahaha

E eu tb não quero fazer parte da banda culta do blog, não! A banda podre sempre faz as melhores festas! Todo nerd quer se pop, no final.

Bem, eu sou a chuva que lança... ops! Na verdade, eu sou amiga da Cindy e amiga da irmã da Geisy. Não sei quem atura quem, mas Cindy e eu estudamos juntas no colégio, depois na faculdade e tínhamos planos de um jornalzinho que nunca saiu do papel ou no papel. E ela acha q escrevo bem, então me chamou para participar deste blog, eu aceitei pq sou uma fraude digníssima e sempre aceito esses convites acompanhados de elogios.

E, vc, Clara? Quero saber mais de vc tb, essa moça que se preocupa com os humanos por trás das postagens. Além de querer me enturmar para ser convidada para as festas! ;O)

Beijones!

P.S.: Cindy e eu voltamos a morar tão pertinho e quase não nos vemos, néam, Cindyê?

Madame Fatah disse...

Ah, Gota D'água é uma peça que o Chico Buarque e o Paulo Pontes escreveram baseada na tragédia grega Medéia, que narra a tragetória de uma mulher que decide matar os filhos para se vingar do homem, que a abandonou para se casar com uma mulher mais jovem e mais rica.
Após uma temporada de sucesso no Teatro Glória, a peça reestreou quarta-feira no João Caetano.

Pasolini fez um filme ótimo com a Maria Callas como Medéia.

ju coniglio disse...

tá, mas e nome? pq de repente a gente conhece vc, né? (ó eu falando como se conhecesse toooodo mundo)

Madame Fatah disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ju coniglio disse...

ahtá, pode apagar pq acho que num conheço não. :)
de todo modo eu nem era da letras, era do ct.

Madame Fatah disse...

Vc por um acaso era da Matemática?

marta disse...

Não tô entendendo nada, mas tudo bem. Normal! rs...

Clara, eu também não tenho muita paciência pra escrever assim. Sou econômica nas palavras, né?

Mas ainda bem que existem as Madames!

Madame Fatah, vc trabalha com direção?

ju coniglio disse...

madame: era, era. a gente devia se conhecer de vista. :)

Clarissa disse...

"Bem, eu sou a chuva que lança... ops!" Aahahaha, AMO!

Então quer dizer que vc é amiga da Cindy e da Geisy... não será vc loira? acho que te conheço. Vc não foi ao botequim com a gente e ficou a noite toda com o crachá da empresa em que vc trabalha no pescoço? Aí eu te perguntei pq vc nao tirava, lembra? Se não for vc, me desculpe, hehe.

Bom, eu sou Clarissa, namorada da Rafa. De letras tb... não sei o que mais posso dizer além disso.

Em relação à peça... agora sim entendi. Estava confusa com essa história de Jasão e Joana, pois não me lembrava de nenhuma Joana em Medéia e fiquei pensando: 'mas não era Medéia o nome da moça, meu deus?' Enfim, vivendo e amealhando informações.

beijinhos!

Clarissa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Madame Fatah disse...

Juliana, eu acho q me lembro de vc, se for quem estou pensando. Vc tinha o cabelo bem curto e usava óculos?

Marta, eu estudo Direção Teatral. E acho ótimo ser econômica nas palavras, não precisar falar muito para se expressar. Viva o jeito Jack Nicholson de travar um colóquio! rsrsrs

Aliás, eu vou postar qlqr dia aqui uns contos de uma frase só que tentei fazer. Se saíram bons, não sei, deixo a crítica para vcs, ok? ;o)

Clara, eu já fui loira gostosa, já fui ruiva alternativa, agora eu sou morena agnóstica. Mas eu nunca não quis tirar um crachá... E já tem uns seis anos ou mais que não bebo em um boteco com a Cindy.

Vamos beber, aliás?
Beijones!

ju coniglio disse...

madame, simsim.

(viu, viu? tbm sei ser econômica!)

Juliana disse...

Adorei o loira gostosa, ruiva alternativa e morena agnóstiva. gostei mais dessa terceira aí! haha

Jules, ela é a Marymilia da UFRJ. Marys, ela é a Pinka.

Chope? Vamos! Teve encontrinho das moças do blog essa semana, foi gostoso, mas no meio de um show. Podemos ir pra um barzinho charmoso. Ou pra um pé sujo gostoso.:)

Beijocas!