sábado, 22 de março de 2008

SOS 1

Estou trabalhando numa parada que tá me matando de sono. Usarei este blog sem piedade para me manter acordada, espero que ninguém se irrite. Não muito.

Som: I only said - My Bloody Valentine

Tava lendo há pouco sobre "os véus de maya" e foi algo que me fez ficar acordada por mais dois minutos. Esses véus são os que impedem a humanidade de se ver com clareza, são véus da ilusão, que nos fazem esquecer dos nossos reais compromissos ou missões na Terra. Gosto desse assunto, ainda mais com tanta guitarra distorcida ao fundo...

Eu gosto dessas ilusões. Sei que é o mesmo que dizer que gosta da Matrix, do sistema, do status quo. É o mesmo que dizer que é covarde ou burro ou ambos, quiçá. E não é fácil pra mim ter de assumir isso, tenho minhas vaidades. Mas lembro que tive de assumir isso quando me hospedei no Vrajabhumi e vi várias pessoas que optaram por não se deixar mais levar pela ilusão, no caso Hare Krishnas. Eu fiquei constrangida por mim e por eles, porque achava que eles me viam como uma besta iludida e eu os via como loucos de pedra necessariamente infelizes.

Voltei de lá e fiquei pensando num casal (que já nem era bem um casal porque esse amor é ilusão) que fazia Letras, como eu, só que na USP e abandonou tudo pra ir pra lá porque o mundo já não tinha mais nada a ver com eles. Como assim? Quando se pensa assim, na minha concepção, a pessoa tinha que se matar. Mas não, eles abandonaram a vida sem aumentar o carma. Inteligentes.

Eu forço a barra com esses véus. Quando vejo que eles estão ficando meio gastos, meio transparentes, eu ponho outro por cima e outro e outro, foda-se. Desde que eu não veja que não há nada não abandonável, não há nada tocável que não seja supérfluo. Isso é muito grave.

Se eu tiro de mim "mulher, filha, amiga, namorada, irmã, prima, sobrinha, colega de trabalho, neta, assistente editorial, terceiro grau, pós, inglês, português, de esquerda, professora, branca, alguns poucos músculos levemente hipertrofiados de propósito por estética, bissexual, 'culta', classe média, seguidora de muitos padrões de higiene-da-classe-média, quase kruang vermelho no muay thai, analisada, medicada, até magra, jovem, tendências artísticas", o que me resta? Será que tirando isso eu viro mais eu do que sou hoje? Certamente, eu vou virar alguma outra coisa que eu nem consigo imaginar. Na verdade, me imagino fácil um cadáver, acho mesmo que não sobrevivo, mas meu maior sonho é conseguir ir me livrando aos poucos de todos os véus óbvios até confirmar se "estar sem véus" não é a mais incrível ilusão humana.

Isso talvez fosse um segredo.

10 comentários:

Juliana disse...

tô aqui pensando que eu poderia escrever horas sobre isso tudo, mas não consigo começar.
eu acho a coisa muito mais simples do que é de fato, eu sei.
apesar de ser um poço de ansiedade, me vejo, com pouca dificuldade, fazendo picadinho desses véus. por isso eu sofro-de-morte, cindy. por isso que eu acho digno e fácil virar vegetariana. por isso que eu fico iluminada andando na graminha. coisas assim.
eu não concordo com essa história de véu, na verdade. eu tô falando das desmedidas. eu acho que as desmedidas, essas sim são as 'ilusões'.
eu acho que é mais ou menos assim: essencialmente, existe a gente e a natureza. a gente sobrevive dela e a gente pode cuidar dela pra sobrevivermos ambas. e podemos cuidar de nós mesmo, entre nós mesmos.
ah, em algum momento a gente conversa sobre isso, porque agora peguei o ritmo. rs

Juliana disse...

então. essencialmnente existimos pessoas e natureza. daí a gente cuida da natureza, a natureza cuida da gente. mas, ok, nascemos num mundo que já não é mais assim. eu acho que buscar essa essência faz bem. eu acho, não, eu tenho certeza. mas viver só da essência num lugar que não é o lugar só da essência, que tem vida inventada e, com bons exemplos, bem inventada, acaba sendo fugir da própria essência, que tem como, ai me falta a palavra, não é 'mandamento. enfim, que tem por fim segundo, sentir prazer. por que o primeiro,a credito, é sobreviver.

tá, calei a boca.

todoseles disse...

Ai, que vontade de falar mais e mais! mas, se o mundo virou cimento, pq a gente inventou o cimento com coisas da natureza, o cimento também é nossa essência, os pneus, os pcs. Tudo parte da natureza em alguma instância. O mundo, do jeito exato que ele é, seria assim um mundo sem véus.

Mas eu acredito nos véus. Vejo que, se eu tenho uma missão na Terra, eu já deixei ela diversas vezes de lado porque é muito mais "necessário" eu me preparar pra ser admitida em uma universidade, um emprego ou para ser desejada por alguém.

O mundo que veio após homem-natureza criou diversas necessidades artificiais ou talvez novas missões de deus para nossas vidas. Minha missão pode ser fazer livros melhores? Isso serve para o consumo, não consigo entender a importância que isso teria para deus...

Pois bem, perguntinha de sábado à tarde: o que é de fato importante no mundo a ponto de ser uma missão e a que distância estamos de cumpri-la?

marta disse...

Fale, Cindy, fale! Lembro uma vez que vc comentou como gostava de ler esse blog. Digo o mesmo e digo que é pq vc tb escreve nele. Cada pessoa aqui tem seu jeitinho de escrever e isso é tããooo bom!

Missões... temos uma missão no mundo? Como saber qual é, Cindy? Não dá pra saber, a não ser que tenhamos a 'sorte' de receber a visita de Jesus e escutar que nossa missão, por exemplo, é não fazer sexo.

Enfim... como é muito difícil da gente saber qual é nossa missão (se é que temos uma), penso eu, na minha insignificância, que devemos viver da melhor maneira possível.

Aí vc vai me perguntar: 'Marta, como é viver da melhor maneira possível?'

Bom... aí realmente é difícil de explicar, pq cada pessoa tem uma visão, certo? Mas basicamente falo de tentar viver sempre pra frente, com otimismo, sem sentimentos negativos que ficam grudados na cabeça e no resto do corpo. Coisas ruins acontecem... coisas boas também... e... ok... aconteceram e pronto. Entende?

hum... tô viajando, né?

marta disse...

ps: bela música de fundo!

Anônimo disse...

Olá meninas! Tudo bem? Há algum tempo venho acompanhando o blog, mas agora gostaria de parabenizá-las abertamente. Viva a anarquia feminina rs! Quanto ao papo, acho que vive melhor quem sabe tropeçar, simplesmente assim. Beijocas.

todoseles disse...

Que Felipe tu és, gajo?

ju coniglio disse...

uh, que coisa. quando vcs começam a questionar assim eu me sinto tão burra... pq eu não penso assim tanto nessas coisas, eu acho que a vida a gente vive e pronto. vc quer isso, aí vc faz isso e vc vai atrás do que vc quer e toma cuidado de não pisar no pé dos outros e sai do caminho dos pombos que é maldade assustar um bicho tão pequeno. vc não joga papel no chão e come chocolate com cocacola de vez em quando, trabalha pra ganhbar dinheiro pra comprar chocolate e cocacola. vc decide que quer uma casa ou um carro ou uma pessoa do seu lado, aí vc corre atrás até conseguir, ou desiste e tenta outra coisa. sei lá, pra mim viver é isso. é tomar essas pequenas decisões sobre a sua vida, tomando cuidado de não pisar nas decisões que os outros tomam sobre a vida deles e pronto. acho que penso meio que nem a marta disse aí no final dela.
o que me intiga de verdade é como a gente toma essas decisões. qual o mecanismo que te faz querer isso e não aquilo. uma coisa que eu não entendo bem é por que eu quero as coisas que eu quero.
uma última coisa: achar que existe 'algo mais' é desprezar o que existe aqui, é dizer que o que existe aqui não é maravilhoso o suficiente, e é. o mundo, tudo que existe, é maravilhoso no sentido mais dicionário da coisa. meu lado nerd lembra da cena do watchmen em que john concorda em tentar salvar a terra quando se lembra do quão improvável é a existência de qualquer pessoa nela.

Juliana disse...

Jules, o seu pensamento é complementar ao meu, na verdade. Mas a coisa que me intriga é a existência de coisas abstratas. Como a gente sente ou deixa de sentir coisas que não são propriamente coisas? Como a gente deixa de querer uma coisa que a gente queria ou passa a querer uma coisa que não queria? Sim, existem motivações, mas essas coisas abstratas de repente aparecem cheias de concretudes, como posso dizer? Com uma força de coisa 'real'. Sabe?
Quando vamos fazer nosso Dorothy-encontro?

ju coniglio disse...

juli, concordo. quer dizer, concordo com suas dúvidas. ainda mais quando tento pensar em termos científicos, i.e., neuronais. quer dizer, que diabo de reação química aconece no meu cerébro que me faz querer sorvete se não tenho nem fome e ainda por cima está frio? que sinapse é essa? oi coisas como saudade de quem vc mal conhece, como tristeza que vem do nada, alegria que vem do idem. sei lá.

eu chego dia 30, a partir daí qualquer dia é dia de festa. :) marquemos.

ps.: tô tendo que digitar trequinho pra comentar aqui, foi macumba de alguma de vcs? :(