quarta-feira, 5 de março de 2008

Florivela



A história

Eu não queria bolo nem vela no meu aniversário.
Mas a minha mãe me convenceu dizendo que a vela soltava fogos, abria em oito pétalas, tocava parabéns pra você.
Ao contrário, com a vela veio o bolo.
Pensei no parabéns apoteótico ao longo da festa, porque eu a-do-ro uma firula.
Tocou o parabéns da Xuxa, pulei, cantei, apaguei as 8 velas, foi o maior barato. Na hora, nem ouvi a musiquinha.
Depois do parabéns me perguntaram o que deveria ser feito pra que a vela parasse de tocar. Eu disse que era só cortar o fiozinho de cobre, como dizia a instrução. Cortamos e nada. Arrancaram a bateria e nada. Pisotearam, muitas pessoas, e nada. Daí uma amiga falou 'ah, vai tomar no cu' e jogou na piscina.
Pronto, a festa acabou na piscina, 4h30 da manhã. Nadando, eu comecei a ouvir um tiriri-ri-ri-ri e pensei 'tô maluca, né possível'. Tirei o bagulhinho da água com o pé e ela estava lá, prateada e mal-feita, cantando, ainda, parabéns pra mim.
Passei a bateria pro homem da festa, que era 'de meninas'. E ele, na melhor das boas intenções, isolou pra algum telhado vizinho.
Fomos dormir. Quando deitei, já de manhã, voltei a ouvir o parabéns pra mim. No domingo, quando acordei, também. E quando dormi também. Acordei segunda-feira às 7h50, ansiosa pra falar com a representante da Florivela no Brasil.

A conversa com o representante da vela no Brasil

- Oi, moça, bom dia. O negócio é o seguinte: comprei a maldita Florivela, minha festa foi no sábado, hoje é segunda e ela continua cantando pra mim. Eu não tenho acesso a ela. E eu PRECISO saber quando ela vai parar de tocar.

- Bom dia, senhora. Para que ela pare de tocar, a senhora precisa cortar o fio de conexão.

- Moça, a bateria da vela tá em algum telhado, os vizinhos já estão reclamando [e de fato estavam], e eu não tenho como desfazer conexão nenhuma. Você compreende que eu cortei o fio, ela foi pisoteada, ficou subemrsa por mais de 3 horas, tá derretendo no sol há 2 dias e não parou?

- [Já rindo...] Senhora, você deve, então, desmontar a bateria e cortar todos os fios.

- MOÇA!!! A bateria da vela tá em um TE LHA DO inalcançável. Não há essa possibilidade. Eu preciso saber o tipo de bateria e a duração real dela, pra saber que providências devo tomar.

- Senhora, deve durar em torno de 3 dias. [Rindo bastante.]

- Moça, parece engraçado, mas deixou de ser há 2 dias já. Eu tô agoniada, tô incomodando duas ruas inteiras, porque é uma freqüência que faz IRGH no cérebro. E tá me torturando de culpa, porque só eu sei o que é e onde está. Só que eu não posso fazer nada. [Nisso, eu já estava pensando em arremessar um gato no telhado pra chamar o corpo de bombeiros pra tirar... a bateria.]

- Só um minuto. Olha, parece que dura algo em torno de 10 dias.

- Eu não vou conseguir conviver com isso por 10 dias. Você liga pro fabricante, onde quer que ele esteja, e me informa direito o tipo e a duração da bateria.

- Tá, a senhora [Rindo muito.] me dá seu telefone e seu e-mail que eu entrarei em contato.

- Telefone tal, e-mail tal. Espero angustiada a sua resposta.

- Fique tranqüila, que ela não vai durar pra sempre. É como uma bateria de relógio.

- Pode durar tipo... 3 ANOS?!

- Hahaha.

- Eu aguardo. Obrigada.


O desfecho

Ainda na segunda-feira, angustiada, de hora em hora na varanda eu olhava a bateria brilhando lá no telhado. Sofri o dia todo, sem parar um minuto sequer de sentir culpa. No fim do dia, liguei o ar-condicionado, o ventilador, coloquei a TV num canal que não pegava só pra ter mais um barulho que neutralizasse a freqüência da bateria da vela.
Cada telefonema, batida de porta, interfone que tocava, meu coração disparava. Eu já imaginava que em algum momento eu ouviria de algum dos 20 e poucos prédios da vizinhança um "DESLIGA ESSA PÔRRA!!!". Decidi que, caso isso acontecesse, eu iria à varanda gritar também, pra ver se eu acreditava de vez que não tinha nada com aquilo.
Acordei terça-feira angustiada, a bateria continuava tocando. Peguei uma muda de roupa e decidi que só voltaria pra casa quando a Florivela parasse de tocar.
Hoje é quarta-feira, fui pra a análise e só falei sobre a minha angústia com a vela. Minha mãe disse que parecia ter parado e eu voltei.
Agora tô aqui, ainda com o coração em sobressaltos, com medo de ela voltar a tocar. Angustiada com a &%¨$*#+ da vela que seria - e foi - a apoteose da festa.

8 comentários:

marta disse...

HUAHUHAUHAUAHUHAUA!

Florivela Highlander!!

Gente! Essa é muito surreal! Vai ser difícil alguma história bater a Florivela em 2008.

Juli, desculpa, mas é engraçado demais e se eu fosse a 'moça', acho que eu ia ter uma crise de risos e não conseguiria te atender.

Como podem fabricar uma porra dessas? A parada toca até debaixo d'água!

ps: a mãe sempre leva a culpa, né? rss... =P

Anônimo disse...

com choro e com vela!

todoseles disse...

Marta, concordo completamente. é uma das coisas mais loucas que já vi acontecer e acho que vai ser a história de 2008, tanto a indestrutibilidade da vela como a paranóia que causou na figuraça que comprou a velinha pro seu aniversarinho...

Ju, sinceramente, parabèns por ter vivido isso, vc me fez gargalhar loucamente no trabalho e em casa durante todos esses dias, hahahahah

ju coniglio disse...

Nossa, ri muito lendo isso.
Quer dizer, deve ter sido terrível e tal mas... nossa, ri muito lendo isso. :)
E afinal, a vela parou?

Juliana disse...

esqueci de dizer que a vela e o bolo da foto são, de fato, meus.

Anônimo disse...

Juli, como já te disse hoje por chat, da próxima vez que me pedirem pra calar uma florivela imortal, eu guardo o treco no bolso e arremesso da ponte Rio-Niterói na volta.

(se bem que, no estado em que os ocupantes do meu táxi estavam, acho que ninguém ia conseguir fazer isso, e eu ia amanhecer em casa com a parada no bolso e me perguntando que raio de musiquinha seria aquela...)

dito isto, compartilho o alívio de saber que a vela finalmente parou de tocar, eu que me sentia co-responsável pela pentelhação aos seus vizinhos.

e também acrescento que só mesmo na sua festa isso podia acontecer.

por isso mesmo, muito me honra ser convocado para homem da sua festa.

beijos e até a próxima!

Guadalupe B disse...

Juli, eu nao tinha lido isso antes, que engracado!! Morri de rir aki, que delicia de ler!!!
ADOREI!

Marcia Oliveira disse...

Hilário! Já desisti de comprar a Florivela. : )