segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Achei interessante

Caros e caras, recebi este texto e achei que valia passar pra frente. Como estava esperando uma oportunidade para estrear no Blog, achei que seria uma boa oportunidade.
Não sou contra e nem a favor, muito pelo contrário...
Food for thought...

Por que Chávez? Artigo publicado no jornal O Globo, no dia 24/11/2007Cristovam Buarque * www.cristovam.com.br

Talvez nenhum outro líder político latino-americano tenha recebido tanta atenção de jornalistas e de políticos brasileiros quanto o presidente Chávez. As análises e críticas são sempre sobre "o que é" e "como age Chávez". Ninguém pergunta "por que Chávez?" - o que levou a Venezuela, depois de 50 anos de democracia, a optar, por meio do voto, eleição após eleição, por um governo com características autocratas.
A resposta é simples: Chávez é o produto da insensibilidade da elite e da desmoralização da política. Durante os 50 anos de sua democracia, a Venezuela teve dois partidos se sucediam, sem nada mudar, exceto o nome do Presidente. Uma falsa alternância do poder. Por todo esse tempo, o país exportou petróleo e teve recursos para financiar o luxo e a sofisticação do consumo de uma minoria rica. Muito pouco foi usado para atender às necessidades da população pobre, ou para investir em um projeto estratégico de desenvolvimento. O resultado foi um país dividido por uma apartação social, o total estranhamento entre incluídos e excluídos, que se vêem como se fossem partes separadas de um mesmo país, e não componentes de uma mesma nação.
O Brasil se comporta hoje como a Venezuela de anos atrás. A eleição de Lula já foi o resultado da histórica insensibilidade da elite e da desmoralização da política. Ele representava o novo, dizia que o Congresso era composto por 300 picaretas; liderava um partido que era símbolo da luta contra a corrupção e da esperança de uma nova política nacional, que transformaria a sociedade em benefício da emancipação das camadas pobres.
É verdade que, no poder, Lula não se comportou como Chávez: em vez de dividir o país, fez uma coesão política entre pobres e ricos. Mas não criou as condições para a unidade social, para a formação de uma nação. Em vez de mudar a sociedade, tomou medidas que acomodaram o povo e os partidos. Adotou uma forma de fazer política idêntica à que antes criticava. A coesão política veio do compromisso com a manutenção do status quo em todas as áreas, e da concessão de programas assistenciais para as camadas pobres. O resultado é que o Brasil de hoje é a Venezuela de antes de Chávez, com o agravante da perda da esperança no governo Lula.
A democracia vai aos poucos sendo corroída pela desmoralização dos políticos, pela insensibilidade das elites dirigentes, pelo cinismo da comemoração pelos pequenos avanços, pela aceitação de que a corrupção é natural e generalizada. Somos um caldeirão de frustrações fabricando uma alternativa autocrática. Apesar de criticar Chávez, o Congresso brasileiro colabora sistematicamente para fabricar o chavismo no Brasil. Com o aumento do salário dos parlamentares, os acordos para salvar colegas condenados pela opinião pública, a mudança de posições que depende de estar no governo ou na oposição, o aumento de impostos repudiado pelos contribuintes, os fracos resultados no enfrentamento dos problemas da população. Nem aqueles que criticam Chávez sentem saudades dos partidos e dos políticos de antes.
Os juízes passam a idéia de estar mais preocupados com o aumento dos seus salários do que em fazer justiça, e permitem a vergonhosa impunidade dos ricos. Colaboram para formar o desejo popular de um líder autoritário. Na Venezuela, mesmo aqueles que se horrorizam com o controle da justiça afirmam que a justiça anterior não merecia sobreviver.
A imprensa, apesar de denunciar constantemente a corrupção, se concentra no debate superficial, generaliza a crítica a todo político, desmoraliza a classe política - e junto com ela, a democracia -, ignora propostas alternativas para um Brasil sem apartação. Critica os erros, mas não denuncia as causas. É como nas tragédias gregas. Ninguém quer o resultado trágico do autoritarismo.
Mas como atores, estamos todos - Congresso, justiça, imprensa - fazendo a nossa parte para que o Brasil seja uma fábrica de autocratas, produtos da insensibilidade da elite e da desmoralização da política.
* Professor da Universidade de Brasília, Senador pelo PDT / DF.

5 comentários:

Geisy disse...

Maravilhoso esse texto!! Fico feliz dele ter sido postado aqui.

P.S.: Caralho, como eu odeio a Globo! Mais e mais...

marta disse...

Nas últimas eleições para presidente, vi um debate entre os candidatos e me surpreendi com o Cristovam.
Também achei interessante o texto.

Juliana disse...

'Somos um caldeirão de frustrações fabricando uma alternativa autocrática.'
o rodrigo chegou chegando. :)
muito bom o texto mesmo.

Guadalupe B disse...

Poxa, bom me interar um pouco do que tá acontecendo aí... Me senti tão desatualizada....

Clarissa disse...

Hi, mas fica tranquila que vc não ficará desatualizada nunca. Aqui tá td sempre igualizinho... hehe. Se ficar um ano longe ou quinze, vai se sentir em casa da mesma forma, quando voltar.