Cá estou eu a falar novamente da minha querida Suécia. Aqui está a crônica do dia (04/01) de Arthur Dapieve, publicada no Globo. E também o trecho final da crônica da sexta-feira seguinte.
Conforme a matriz do pop e do rock anglo-americanos começou a dar sinais de estagnação em meados dos anos 90, com notáveis exceções do tipo Radiohead ou System of a Down, o gênero saiu à cata de espaço vital. Primeiro, apenas cruzou a fronteira em países ainda (parcialmente) anglófonos, como a Escócia e o Canadá. Depois, estabeleceu cenas muito interessantes em dois países latinos, França e Espanha.
Não é de hoje, também, que um excelente pop-rock tem sido produzido em países escandinavos. Em 2001, o ex-VJ e eterno desbravador Fabio Massari chegou a escrever um guia de viagem sonora, “Rumo à estação Islândia”, sobre a terra de, entre outros, Björk e Sigur Rós. Este sublime grupo, aliás, acaba de lançar o duplo “Hvarf/Heim”, um CD com cinco raridades, outro com seis versões acústicas, companheiros do seu filme “Heima”.
Quase sempre, porém, foi a Suécia a principal potência pop-roqueira por aquelas bandas setentrionais. Desde o ABBA, cujo início de carreira remonta a 1971, o país parece ter se especializado em produzir grupos que, de variadas formas, transformaram a melodia mais pegajosa em valor supremo, não raro sustentada por uma batida dançante. Lembre-se do Roxatte ou do Ace of Base. Agora, esqueça: essa turma era só a ponta do iceberg.
Havia um bocado de gente loura bem mais interessante do que isso, não apenas na capital Estocolmo, mas igualmente em Jönköping, cidade dos suavezinhos Cardigans; em Skelleftea, dos pesadinhos Drowners; ou em Fagersta, dos punkzinhos Hives. Por mais diversos que sejam seus estilos, esses três grupos mantiveram, como atestam seus discos lançados no Brasil, o apreço pelo chiclete-de-ouvido do brega mas seminal ABBA.
Embora esse pop-rock redondinho seja a marca distintiva nacional, nos últimos anos também surgiram por lá aves raras como José González, filho de expatriados argentinos que, a ouvidos menos exigentes, pode evocar um Nick Drake redivivo; ou Sarah Assbring, que se rebatizou artisticamente El Perro del Mar depois de ter encontrado um cachorro solitário numa praia espanhola e que abraçou um pop arquestral à la Burt Bacharach.
Fora isso, entre os que conheço, o clima é de sol da meia-noite, mas leve o casaco: é verão sueco, ou seja, bergmaniano. Meus quatro novos pop-roqueiros favoritos transmitem melancolia até quando celebram o mero fato de estarem vivos, antes que a peste negra, a bomba atômica ou outro barato estranho lhes dê xeque-mate. São eles:
Peter, Bjorn and John. Eles chegaram a balançar os EUA, graças à inclusão da deliciosa “Young folks”, do CD “Writer’s block” (Almost Gold, 2006, importado), num episódio da série “Grey’s anatomy”. Nela, Peter Morén e a convidada Victoria Bergsman mais falam que cantam algo que poderia levar levar o sbtítulo “Melo da bagaceira” se não fosse tão elegante. A batida é dançante, mas a melodia assobiada insinua a solidão.
O trio de Estocolmo lançará novo CD este ano. Nem de longe, contudo, quer repetir o sucesso de “Young folks”. O álbum será totalmente instrumental, com toques de música africana, brasileira e alemã experimental dos anos 70 (kraut rock). “Nós achamos que seria uma boa idéia tentar matar a nossa carreira”, ironizou Peter à revista inglesa “Mojo”.
Jens Lekman. Ele já era tratado como o geniozinho de Gotenburgo bem antes dos 26 anos que terá até o mês que vem. Lekman está no segundo CD, sem contar uma compilação (!). Apesar do título, há bem mais sol do que sombra nas 12 faixas cheias de sininhos do imponente “Night falls over Kortedala” (Secretly Canadian, 2007, importado). Dentre elas destaco “The opposite of hallelujah” e, sobretudo, a mimosa “A postcard to Nina”.
Lekman é um artista solo potencializado pelas moderníssimas tecnologias de gravação, como Sufjan Steves ou Conor Oberst, do Bright Eyes. No entanto, ao mesmo tempo, seus arranjos e sua voz empostada fazem pensar maus num crooner dos anos 60 que num roqueiro, remetendo a Tom Jones, Morrissey ou Paddy McAloon, do Prefab Sprout.
Loney, Dear. Este é o nome sob o qual atua Emil Svanängen, nascido na cidade dos Cardigans, Jönköping. Título e capa do seu segundo CD, “Loney, noir” (Sub Pop, 2007, importado), aproximam-se do conteúdo. Ainda que a batida peça a dança, ainda que a melodia tenda ao doce, ainda que cante num incrível falsete, Svanängen prefere a noite, expressa em títulos como em “Sinister in a state of hope” e “No one can win”.
Outra de suas grandes músicas tristonhas pode ser apreciada no YouTube. Os protagonistas do clipe de “Saturday waits” são cães. E se a palavra “saudade” existisse em inglês – pois, para aumentar a audiência, nenhum desses novos suecos canta na sua língua-mãe – estaria na letra. O Loney, Dear é o meu favorito neste lote de quatro.
I’m from Barcelona. A cidade catalã é apenas uma senha solar. A banda se formou na fértil Jönköping. E apesar de a ficha técnica de “Let me introduce my friends” (EMI, 2006, importado) listar 29 membros, o nome que conta é Emanuel Lundgren. É ele quem assina tudo deste bando de poderosa pegada roqueira, como Tim DeLaughter faz no hippie-multitudinário Polyphonic Spree, o paralelo americano mais notável.
Faixas como a cação-tema “We’re from Barcelona” (“O amor é um sentimento que não entendemos / Mas vamos dar a você”) são verdadeiras odes à alegria. Até ouvintes macambúzios ficam (quase) felizes ouvindo. A vida é boa. Ao menos na Suécia.
Conforme a matriz do pop e do rock anglo-americanos começou a dar sinais de estagnação em meados dos anos 90, com notáveis exceções do tipo Radiohead ou System of a Down, o gênero saiu à cata de espaço vital. Primeiro, apenas cruzou a fronteira em países ainda (parcialmente) anglófonos, como a Escócia e o Canadá. Depois, estabeleceu cenas muito interessantes em dois países latinos, França e Espanha.
Não é de hoje, também, que um excelente pop-rock tem sido produzido em países escandinavos. Em 2001, o ex-VJ e eterno desbravador Fabio Massari chegou a escrever um guia de viagem sonora, “Rumo à estação Islândia”, sobre a terra de, entre outros, Björk e Sigur Rós. Este sublime grupo, aliás, acaba de lançar o duplo “Hvarf/Heim”, um CD com cinco raridades, outro com seis versões acústicas, companheiros do seu filme “Heima”.
Quase sempre, porém, foi a Suécia a principal potência pop-roqueira por aquelas bandas setentrionais. Desde o ABBA, cujo início de carreira remonta a 1971, o país parece ter se especializado em produzir grupos que, de variadas formas, transformaram a melodia mais pegajosa em valor supremo, não raro sustentada por uma batida dançante. Lembre-se do Roxatte ou do Ace of Base. Agora, esqueça: essa turma era só a ponta do iceberg.
Havia um bocado de gente loura bem mais interessante do que isso, não apenas na capital Estocolmo, mas igualmente em Jönköping, cidade dos suavezinhos Cardigans; em Skelleftea, dos pesadinhos Drowners; ou em Fagersta, dos punkzinhos Hives. Por mais diversos que sejam seus estilos, esses três grupos mantiveram, como atestam seus discos lançados no Brasil, o apreço pelo chiclete-de-ouvido do brega mas seminal ABBA.
Embora esse pop-rock redondinho seja a marca distintiva nacional, nos últimos anos também surgiram por lá aves raras como José González, filho de expatriados argentinos que, a ouvidos menos exigentes, pode evocar um Nick Drake redivivo; ou Sarah Assbring, que se rebatizou artisticamente El Perro del Mar depois de ter encontrado um cachorro solitário numa praia espanhola e que abraçou um pop arquestral à la Burt Bacharach.
Fora isso, entre os que conheço, o clima é de sol da meia-noite, mas leve o casaco: é verão sueco, ou seja, bergmaniano. Meus quatro novos pop-roqueiros favoritos transmitem melancolia até quando celebram o mero fato de estarem vivos, antes que a peste negra, a bomba atômica ou outro barato estranho lhes dê xeque-mate. São eles:
Peter, Bjorn and John. Eles chegaram a balançar os EUA, graças à inclusão da deliciosa “Young folks”, do CD “Writer’s block” (Almost Gold, 2006, importado), num episódio da série “Grey’s anatomy”. Nela, Peter Morén e a convidada Victoria Bergsman mais falam que cantam algo que poderia levar levar o sbtítulo “Melo da bagaceira” se não fosse tão elegante. A batida é dançante, mas a melodia assobiada insinua a solidão.
O trio de Estocolmo lançará novo CD este ano. Nem de longe, contudo, quer repetir o sucesso de “Young folks”. O álbum será totalmente instrumental, com toques de música africana, brasileira e alemã experimental dos anos 70 (kraut rock). “Nós achamos que seria uma boa idéia tentar matar a nossa carreira”, ironizou Peter à revista inglesa “Mojo”.
Jens Lekman. Ele já era tratado como o geniozinho de Gotenburgo bem antes dos 26 anos que terá até o mês que vem. Lekman está no segundo CD, sem contar uma compilação (!). Apesar do título, há bem mais sol do que sombra nas 12 faixas cheias de sininhos do imponente “Night falls over Kortedala” (Secretly Canadian, 2007, importado). Dentre elas destaco “The opposite of hallelujah” e, sobretudo, a mimosa “A postcard to Nina”.
Lekman é um artista solo potencializado pelas moderníssimas tecnologias de gravação, como Sufjan Steves ou Conor Oberst, do Bright Eyes. No entanto, ao mesmo tempo, seus arranjos e sua voz empostada fazem pensar maus num crooner dos anos 60 que num roqueiro, remetendo a Tom Jones, Morrissey ou Paddy McAloon, do Prefab Sprout.
Loney, Dear. Este é o nome sob o qual atua Emil Svanängen, nascido na cidade dos Cardigans, Jönköping. Título e capa do seu segundo CD, “Loney, noir” (Sub Pop, 2007, importado), aproximam-se do conteúdo. Ainda que a batida peça a dança, ainda que a melodia tenda ao doce, ainda que cante num incrível falsete, Svanängen prefere a noite, expressa em títulos como em “Sinister in a state of hope” e “No one can win”.
Outra de suas grandes músicas tristonhas pode ser apreciada no YouTube. Os protagonistas do clipe de “Saturday waits” são cães. E se a palavra “saudade” existisse em inglês – pois, para aumentar a audiência, nenhum desses novos suecos canta na sua língua-mãe – estaria na letra. O Loney, Dear é o meu favorito neste lote de quatro.
I’m from Barcelona. A cidade catalã é apenas uma senha solar. A banda se formou na fértil Jönköping. E apesar de a ficha técnica de “Let me introduce my friends” (EMI, 2006, importado) listar 29 membros, o nome que conta é Emanuel Lundgren. É ele quem assina tudo deste bando de poderosa pegada roqueira, como Tim DeLaughter faz no hippie-multitudinário Polyphonic Spree, o paralelo americano mais notável.
Faixas como a cação-tema “We’re from Barcelona” (“O amor é um sentimento que não entendemos / Mas vamos dar a você”) são verdadeiras odes à alegria. Até ouvintes macambúzios ficam (quase) felizes ouvindo. A vida é boa. Ao menos na Suécia.
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Sobre a coluna suecófila sa semana passada... Ana Garcia, que organiza a "Invasão sueca", projeto que traz bandas de lá para shows sobretudo em São Paulo e no Sul, avisa que José González em breve estará de volta para shows no Sesc Vila Mariana (terça, dia 22/01) e no Santander Cultural de Porto Alegre (quarta dia 23/01). E Marcio Ehrlich me alerta: esqueci os Caesars, que emplacaram a música "Jerk it out" num anúncio de iPod. Obrigado, é verdade. Na linha dos Hives, não mencionei também o Mando Diao.
Taí, galera! Na boa, aqui no Rio só samba, carnaval e bunda, né? Como diria nossa grande filósofa Cindy: "para tudo tem um limite, até para o samba". Enfim...
Taí, galera! Na boa, aqui no Rio só samba, carnaval e bunda, né? Como diria nossa grande filósofa Cindy: "para tudo tem um limite, até para o samba". Enfim...
Sugiro uma escutada nas músicas do Mando Diao. O meu preferido de todos esses no momento.
=D
5 comentários:
'são verdadeiras odes à alegria. Até ouvintes macambúzios ficam (quase) felizes ouvindo. A vida é boa. Ao menos na Suécia.' Muito bom! E po! Verão deve ser ótimo lá...
Muito bom, né?
aaahhh... meu sonho de verão!! rssss...
gente. eu não conheço quase nada.
vcs conhecem essa gente toda?
Eu conheço quase tudo. Estou curiosa para ouvir o Lekman.
O clipe dos cachorros é doido...rs...
=)
Eu conheco um bocado tbm, mas vou ouvir o resto já já.
O lekman eu nao gosto.
E concordo, tem muita musica boa na suécia.
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