terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Cronofobia

Do Nabokov.
Eu tive uma experiência estranha quando li isso.

"O berço balança pairando sobre um abismo, e o senso comum nos diz que nossa experiência não passa de uma breve fenda de luz entre duas eternidades de trevas. Embora as duas sejam gêmeas idênticas, o homem, em geral, encara com mais calma o abismo pré-natal do que aquele a que se destina (a cerca de quatro mil e quinhentas pulsações cardíacas por hora). Conheço, porém, um jovem cronófobo que sentiu algo parecido com o pânico ao ver pela primeira vez filmes domésticos que haviam sido feitos algumas semanas antes do seu nascimento. Viu um mundo que praticamente não apresentava qualquer diferença – a mesma casa, as mesmas pessoas -, mas então percebeu que era um mundo onde ele não existia, e que ninguém deplorava a sua ausência. Viu de relance a sua mãe acenando de uma janela do segundo andar, e aquele gesto estranho o perturbou, como se fosse um adeus misterioso. Mas o que o deixou particularmente assustado foi a visão de um carrinho de bebê novo em folha na varanda, com o ar presunçoso e inoportuno de um ataúde; e também estava vazio, como se, naquele curso invertido dos acontecimentos, seus próprios ossos se tivessem desintegrado”

3 comentários:

Clarissa disse...

Que curioso. Isso me deixou, como diz a Marta, 'a pensar'. Hummm...

marta disse...

Clara! Tirou as palavras da minha boca.

É uma experiência mesmo. Não sei se diria estranha, mas...

É uma sensação...

Preciso de um tempo...

marta disse...

Juli, esse texto é de onde?

Beijos