quinta-feira, 30 de julho de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Pois é, virei mãe
Agora eu tô vendida. Converso em sílabas soltas, tenho as roupas manchadas de leite, não me lembro do que comi ontem nem pra onde estou indo, tenho olheiras pretíssimas, converso sobre fraldas, faco caminhada empurrando carrinho, falo com quem não me responde. E gosto. Brinco a maior parte do dia. É isso: uma coisa boa em se ter um bebê é que se é obrigada a tirar tempo pra brincar. A casa está cheia de brinquedinhos coloridos e os livros fora da estante são sobre bebês e tudo relacionado a eles e a ser mãe (e pai).
Eu nunca fui uma “baby person”. Nunca me interessei por bebês e reconheço que muitas das atitudes de novas mães me incomodavam bastante. Tipo carrinhos de bebê congestionando os corredores da minha loja de departamentos preferida. Agora eu passei pro outro lado: me incomodo com as pessoas sem carrinho empacando meu caminho na sessão infantil da minha loja de departamentos preferida.
E eu viajo, entro em paranóia por coisas que podem acontecer em 1, 20, 30, 40, 50 anos. Já tive medo de passar minha velhice num micro apartamento no gueto de Copenhague, sozinha, aguando flores de plástico na varanda, viúva e com um filho que não retorna minhas ligações. E o que eu vou fazer para sair por aí quando for ao Brasil? Tô me cagando de medo de ser assassinada, de alguém machucá-lo. E como vou carregar carrinho, cadeirinha de carro, bolsa e toda essa tralha sozinha? Ah, e um bebê “on top of everything”. É como se esse troço de ser mãe tivesse aberto um novo leque de possibilidades para a parte do meu cérebro que organiza as minhas neuras.
Te digo que é um inferno na minha cabeça. Um inferno feliz.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Amor / Separação (ai, como dói)
Deixem o preconceito de lado e leiam.
Separações
Há pessoas que sofrem com separações, outras, muito mais raras, se alegram com isso. Realmente uma separação é sempre um alívio. E alguns logo encontram a "solidão magnífica", conforme chamou Freud. Mas não sou esse tipo de pessoa e, para os homens comuns, separação dói muito.
O assunto não me é estranho porque já fiz um filme sobre ele e também porque tive cinco casamentos e cinco separações. No entanto não tenho nada a dizer sobre o assunto. Há coisas assim, quanto mais se vive ou mais se pensa, mas obscuras ficam.
Na primeira separação, tinha uns vinte e poucos anos. O nome dela era Eliana. Me desarticulei tanto que não podia sair na rua, achando que os edifícios cairiam sobre mim. Lembro também que foi nessa época que descobri a psicanálise e logo depois o álcool. Na boemia, no tempo sem tempo da boemia, procurava aflitamente o Amor. Quebrei minha mão dando um soco na parede e fui à sessão de psicanálise tocar uma flauta de plástico que alguém me deu, com a mão engessada. Quero dizer que sofri muito.
Na minha segunda separação sofri muito. Tinha três namoradas ao mesmo tempo, e brochava com as três. O nome dela era Leila. Em vez de tocar a flauta, fiz um filme, "Todas as Mulheres do Mundo". Ninguém duvide disso: períodos de separação são em geral altamente produtivos.
Minha terceira separação, Nazareth, eu tinha quarenta e poucos, sofri muito e não teve graça nenhuma. Eu estava sem dinheiro e vivia minha vida nos corredores dos bancos adiando promissórias, parcelando dívidas, movido por anfetaminas. Naquela época eram vendidas como remédio para emagrecer.
Meu quarto casamento, Lenita, durou dez anos e tive uma filha. Maria Mariana. Na quarta separação tinha quase cinqüenta, tive poucas namoradas, poucas porém boas.
Até que há vinte e oito anos, casei com Priscilla, adorável criatura que me acompanha até hoje. E lá pelo oitavo ou décimo ano de casamento, passamos um ano separados. Se eu tinha desarticulado na primeira, nessa ultima desagreguei, quero dizer, sofri muito. Mas sempre produtivamente. Essa experiência resultou num filme, "Separações".
Se eu cito esses dados biográficos nesta palestra, é apenas para tentar perceber o que há de comum entre essas cinco malditas porém necessárias passagens. Na verdade quase pode ser dito que todo homem solteiro quer casar assim como todo casado quer ficar solteiro. Não conheço nenhum casal decente que não nutra um sólido desejo de separação. Faz parte de um bom casamento, creio. Afinal, o amor tira a liberdade, sem dúvida. O que é inadmissível. E a solidão muita vezes é desagradabilíssima e vazia. Enfim, assim vamos todos, amando e desamando, carneirinhos a espera do corte.
A pergunta que faço hoje em dia a respeito do assunto é sobre a possibilidade de amar, casar e separar sem sofrer. Muito me perguntei sobre o mistério da dor do amor. Para tentar entender a dor do amor existem três indagações sobre o amor, ele mesmo.
Primeiro. Porque o amor (a paixão) acaba? Infinita enquanto dura, mas não dura. É por esquecimento de si mesmo? Porque, sendo explosão, com tempo se atenua? Porque, tendo dado ao amante sua chance de eternizar-se, não tem mais nada a fazer ali?
A segunda indagação vai mais direto ao ponto: Porque dói tanto quando o amor acaba? Porque é tão triste? Porque é inaceitável? Nenhum raciocínio ou vivência autorizou a crença de sua perenidade? Porque afinal nos dilaceramos? Ah, a dor do amor. É mais que uma angústia. É uma febre, uma desidratação. Poucas coisas são tão tristes quanto o fim de um grande amor. Talvez nem o fim da vida seja tão triste. E o que dói? Onde dói? Dói por não ser mais o que era. Dói por tudo que poderia ser, se ainda fosse, mas não será jamais. Dói a perda da paixão, única moeda cósmica que temos a nossa disposição. Porém, acalmemos. Deve haver um motivo objetivo para tanta dor. Examinemos metodicamente uma a uma as perdas.
O que se perde quando é perdido um amor? Talvez a moeda cósmica? Não, não deve ser isso. Todos os homens sofrem separações e nem todos se importam com o cosmos.
A perda do objeto sexual? Também não deve ser isso. Há muitas Marias para cada João.
Qualquer coisa ligada a ciúme de terceiros? Mas há separações que não envolvem terceiros, nem por isso deixam de ser sofridas.
Tão pouco são razoáveis as explicações psicológicas, quebra da fantasia, falência de um investimento sentimental ou qualquer coisa desse tipo. Mas também não é isso. Homens maduros, estudiosos, que certamente ultrapassaram esse tipo de acontecimento psicológico também sofrem como cães envenenados.
Aprofundemos essa espiral.
Talvez o horror da solidão quando convivemos muito com a pessoa amada, perdemos totalmente a noção de como somos sós no mundo. Nossa íntima alegria ou dor é compartilhada, ganhamos um ouvinte interessado e perder isso, convenhamos, é perder muito.
Talvez o medo da liberdade, citando Dostoievski, meu caro companheiro desde a adolescência, "Não há nada que o homem deseje mais do que a liberdade, nem nada que lhe seja tão doloroso".
Na terceira indagação sobre o amor pergunto se ele é necessário. Na pesquisa da verdade todas as hipóteses devem ser levantadas, mesmo as deselegantes. Existirá mesmo um grande homem só? Não será um homem um animal ou dois? Como intuía os antigos gregos, um ser cuja biológica natureza verdadeira é ser parte de uma unidade maior, chamada casal. Se a função da hipótese é responder paradoxos, esta é a meritosa, posto que pelo menos explica a dor do amor. Dói porque falta uma parte, tanto quanto doeria se nos arrancassem um braço ou um olho.
Quando escrevi o roteiro do filme "Separações" eu tinha farto material a respeito. Tanto retirado da minha vivência quanto daquela dos amigos, mas não conseguia fechar a história. Somente pude fazê-lo quando lembrei da Kubler Roth e de suas fases pelas quais obrigatoriamente passa um doente terminal. Quando reparei que elas podiam coincidir com as fases do meu herói ridículo num período de separação, o roteiro ficou resolvido. Somente é possível comparar a separação de dois amantes com a morte de um homem. No filme minha ordem é: a Negação ("Não! Não pode ser! É mentira, ela vai voltar. Foi uma briguinha à tôa."), a Negociação ("Se ela voltar para mim eu paro de fumar, subo os degraus da Penha, nunca mais vou ser galinha"), a Revolta ("Quero te matar, sua puta!") e a Aceitação, que é quando se arranja outra namorada. Ou então a mulher volta. Observe que tomei certas liberdades com a Kubler Roth. Inverto a ordem, que é: a Negação, a Revolta, a Negociação, a Depressão e a Aceitação. E dou por subentendida a fase da depressão.
Bem, espero que quem não viu possa ver o filme. É muito engraçado ver aquele homem arrastando-se pelo chão, pagando todos os micos possíveis para recuperar a mulher amada.
Hoje tenho 72 anos, continuo querendo me separar da Priscilla, e ela de mim naturalmente, posto que somos normais e tenho a impressão que poderíamos fazer isso alegremente sem nenhum ciúme e nenhuma dor. Tenho essa exata impressão e com a mesma convicção que não acredito absolutamente nela. Morro de medo de me separar da Priscilla. Creio, concluindo, que é uma questão genética. Há homens que nasceram para viver sozinhos, e certamente não sou um deles. A verdadeira arte de viver talvez seja tentar ser aquilo que você é. O que evidentemente é muito difícil.
Me aguardem no meu próximo filme, é uma espécie de continuação de Separações. Acompanhando o casal, até digamos assim, o fim. Titulo: "Inseparáveis".
domingo, 19 de julho de 2009
sexta-feira, 17 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
sábado, 11 de julho de 2009
Interpretando
Um resumo: Sophie Calle é uma artista/escritora (não necessariamente nessa ordem) francesa, cujo trabalho de maior repercussão fez parte da Bienal de Veneza de 2007 (e que agora está em São Paulo). O trabalho consiste na interpretação (feita por 104 mulheres, duas marionetes e uma “papagaia”) de uma carta de rompimento de namoro que ela recebeu.
Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: “Cuide de Você”.
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão, para interpretar a carta.
Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la. Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim.
Sophie Calle
(http://www.sophiecalle.com.br)
Na verdade o motivo do post vem agora. Uma das interpretações da carta:
ESTUDANTE
Ambre
Ambre, idade: 9 anos e meio
Eu a li e prestei bastante atenção nas palavras. Um homem está falando com uma mulher sobre os sentimentos dele.
Ele escreve para dizer que quer se separar dela. É bom, mas é complicado.
Tem umas palavras difíceis: irremediável e farsa. Eu acho que ele a ama.
Ele diz que a amará para sempre.
Se ele a ama, eu não se [sic] por que ele está deixando ela. Fala de divórcio.
Ele diz que está vendo suas outras amigas de novo.
Ele diz que gostava [sic] que as coiisas [sic] tivessem tomando [sic] um rumo diferente. Isso quer dizer que as coisas não vão terminar bem. É triste.
Picasso costumava dizer que levou a vida toda para saber pintar como as crianças; ele queria essa evolução.
Adoro a simplicidade e a liberdade delas.
Pessoas adultas complicamos as coisas, né?
=)
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Não consigo parar de ouvir
segunda-feira, 6 de julho de 2009
perda?
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério: Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes. A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente. Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda
nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que
pareça (Escreva!) muito sério. “
(Elizabeth Bishop)
ps: aceitar perdas de tempo é minha meta pra 2010.
=)