sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ser gay, casar, ter filho e blá.

Vou colar aqui, na íntegra, o texto da Mary W (http://beauvoriana2.zip.net/).
Que frequentemente me poupa do trabalho de escrever o que penso.

"A Cam falou. O que você achou da reportagem da Época?. Eu fiquei pensando se ela estava perguntando o que eu acho de duas mulheres serem mães da mesma criança. Ou o que eu achei da forma como Época tratou o negócio. E eu achei legal. A forma como a Época tratou. A gente que é isso e que além de tudo mexe com isso, vê sempre problema, né? Escorregão mesmo. Mas é chatice de quem é da área. As duas poderem registrar a criança eu acho tão básico. Eu já falei aqui uma vez. Que eu demoro demais pra sacar que as leis sobre isso são pra mim. Tipo que eu não posso casar e ter filho. Eu demoro mesmo. Porque eu vivo com planos de me casar. Se um dia acontecer, queria ver minha cara de "ué" quando não deixarem. Fico muito concentrada em arranjar a noiva e esqueço que antes preciso mudar o mundo etc. Não sei o que é mais difícil. Arrumar uma noiva ou acabar com um preconceito. Talvez eu devesse quebrar átomos por aí. Daí que eu não posso ler essas reportagens. E na internet tem os comentários. E eu fico irritada com os comentários que aparecem. Fico de verdade. Principalmente os comentários "ponderados". Que dizem olha, cada um faz o que quer, mas o que será dessa criança quando ela entrar na escola?. Uma coisa assim. Metida a ser reflexiva. A Maria Berenice, a advogada que mais atua nisso aí, de garantir os nossos direitos. Ela fala cada coisa legal. E eu queria falar dela aqui, há uns dias. Que foi quando o projeto da homofobia foi rejeitado no Senado. E uns senadores queriam fazer a alteração lá. Pra permitir que as igrejas continuem dizendo que nós somos pecadores e que o inferno é o nosso lugar. Ela disse que não era pra alterar porcaria nenhuma. Que as concessões encobrem o preconceito e que fica a impressão de que há tolerância, quando não há. É necessário que conheçamos mesmo a posição dos senadores. Posicione-se, Senado Federal. Uma coisa assim. E eu acho legal. Porque fica mesmo a impressão, sabe? Que há tolerância. Porque a gente tem muita visibilidade atualmente. E os valores individualistas respingam em nós. Então todos dizem cada um faz da sua vida o que bem entende. E é por isso que nós podemos ser gays. Porque a vida é nossa. E é óbvio isso, mas incomoda. Mas fica uma coisa complicada. Eu não sei resolver. Porque meio que encapsula a homossexualidade nisso aí de "cada um com sua vida". E fica latente o "desde que não me incomode". E "desde que não envolva a vida de um inocente". Whatever. Tudo tem me incomodado, como é fácil notar. Diante desses resmungos todos. Mas eu só vejo véu sobre véu. E minha psicóloga falava é uma cebola, mary. Você vai tirando as camadas. Infinita cebola, eu digo. Então eu não escrevi sobre a reportagem da Época porque eu não sei o que achar. Lendo assim, achei legal. Mas, né? Se fosse tão fácil, eu já tinha casado. Queria saber o que você achou.

Esse médico é legal também. Esse que fez. *O* cara.

Eu tenho muito problema com esses assuntos. Me ofende e me deixa no chão mesmo. Principalmente esse negócio de criança, de acharem que a gente é tarada e que melhor criança nem ficar perto. Que uma "casa gay" não é ambiente saudável. Ai. Nossa, fico mal mesmo. Por isso que não dou conta de debater direito. E pensar direito e tals."

7 comentários:

Marta disse...

Acho esse assunto ótimo... pena que não tô com tempo pra escrever mais agora.

Bom, como eu não acredito muito em casamento assim desse jeito padrão, sempre tenho a sensação de que perdemos tempo querendo "legalizar o casamento gay". O que eu quero é o que eu tenho direito naturalmente: os direitos que todo casal tem de ter filhos, adotar, deixar herança, ter plano de saúde, financiar imóvel, ter pensão, licença maternidade/paternidade, poder ficar no quarto de hospital como acompanhante etc.

Acho um absurdo a lei nos excluir dessas coisas e aí temos que lutar bravamente pra conseguirmos algo.

E além desses direitos, quero ter o direito de me mostrar, de andar de mãos dadas, de beijar, de fazer carinho, de estar em eventos... sem ter o medo de levar com uma bomba na cara ou ser espancada.

ju coniglio disse...

fora qqer opinião sobre qqer assunto, que texto mais putamente bem escrito, meudeus. parece daquelas que se escreve sobre política exterior de sumatra a gente lê e acha bacana. tem umas coisas assim, outro dia a trocadora do onibus falava tão bacana que eu prestei atenção num assunto baita idiota, só pra ouvir a mulher falar... tipo essa daí escrevendo, parece.

Juliana disse...

juja, a mary w é incrível. é antropóloga, mora lá em fernandópolis, e escreve putamente bem mesmo. é estimulante. eu fico sabendo de um monte de coisa importante do mundo pelo blog dela. e nas conversinhas. pq ela é didaticona. e muito franca. :)
que bom que c gostou! entra lá e lê!:)

Juliana disse...

marta, eu penso meio que nem a mary w. acho que qd eu descobrir que não posso vou fazer cara de ué.
pq parece óbvio que não tem pq a gente não poder isso ou aquilo. acho que vou falar 'ué, p q não?' e vão falar 'é, né. tá, deixa ela casar e ter filho e pára de importunar a menina'.

Marta disse...

Juli, acho legal pensar assim como vcs... infelizmente sou medrosa. Mas hoje te digo que estou bem melhor com isso.

E tb adorei a forma dela escrever.

mary w disse...

oh. morri com o "putamente bem escrito". eu concordo com a marta. acho q a luta pelo casamento é uma luta conservadora. mas é um direito q deveria existir e blá.

Marina disse...

mary w, como a juli falou, seu blog é ótimo e superdidático! li vários posts de madruga, mesmo com sono. me identifiquei bastante, por sinal.